Em meados de 1940, a artista Sophie Taeuber-Arp fugiu de sua casa em Meudon, no interior da França, poucos dias antes das forças nazistas começarem a caminhar para a capital francesa. Acompanhada do marido Jean (Hans) Arp, ela foi se abrigar numa cidade ao sul, se isolando em uma espécie de antigo castelo. Lá só chegaram em 1941, pois no trajeto, passaram por diversos lugares, até ficaram por um tempo breve na casa de Peggy Guggenheim.
Nesse isolamento, Sophie acabou produzindo muito, formando um grupo junto ao marido, ao artista Alberto Magnelli e à artista Sonia Delaunay. Basicamente, eles formaram uma colônia artística e passaram a compor uma série de desenhos de forma colaborativa, que foram publicados em Paris em 1950 como um portfólio de 10 litografias coloridas – que ficaram conhecidas como Album Grasse. Isso se tornou um registro daquilo que é possível quando as pessoas se reúnem durante períodos de grande adversidade.
Um dos quatro decidia a linha inicial daquilo que seria produzido e os outros três desenhavam desdobramentos na mesma folha de papel, permitindo que eles criem imagens abstratas complexas. Desta forma, os quatro eram creditados igualmente. Esse ponto é muito importante para entender Sophie em sua particularidade, já que ela foi frequentemente colocada à margem, sendo colocada à sombra da imagem do marido. Essa situação foi vivida por várias artistas cujos companheiros também eram artistas, o machismo fez com que o trabalho delas fosse diminuído em relação ao deles.
Nascida na Suíça em 1889, Sophie é considerada uma pioneira da vanguarda do século XX. Ela foi uma pessoa extremamente querida pelas pessoas próximas e pelas pessoas do circuito, além de ser uma mulher bastante admirada. Sua mãe era suíça e seu pai alemão, sendo a quinta filha do casal. Por volta dos 20 anos de idade, começou a estudar design têxtil na Escola de Artes Aplicadas de Saint Gallen, ao norte de Zurique.
Estudou e desenvolveu trabalhos em diversos outros lugares, trabalhando com experimentalismos entre a Suíça e a Alemanha. E logo depois começou a trabalhar como professora de design e técnicas têxteis na Escola de Artes Aplicadas de Zurique, onde ficou por dois anos. Lá, conheceu o marido, Jean, e juntos começaram a se inserir no grupo do movimento Dada que nascia por ali, o Zurich Dada.
A sua ligação e seu comprometimento com a arte abstrata têm muita relação com técnicas de design têxtil que ela trabalhava. Isso, ligado à sua contribuição dentro do dadaísmo, fez com que ela se tornasse pioneira do construtivismo e do neoplasticismo.
Além de seus trabalhos como pintora, escultura e designer, Sophie se enveredou pro mundo da dança, tendo estudado dança na École Laban: “Ainda posso ver Sophie Taeuber dançando na Galerie Dada. Lá, vários dançarinos que se tornaram famosos, como Mary Wigman, nos mostraram seu talento. Mas nenhum deles nos deixou uma impressão tão vívida como ela”, disse uma contemporânea da artista em livro que fala sobre o Zurich Dada.
A dança, aqui, faz muito sentido, tendo em vista que nas telas da artistas as formas geométricas se juntam, se embolam, se afastam, como em um movimento muito dançante. Não é por menos que a artista tem sido colocada nos holofotes ultimamente, tendo ganhado uma exposição online na Hauser & Wirth neste momento de pandemia. Além disso, a artista tem a exposiçnao Sophie Taeuber-Arp: Living Abstraction, que deve acontecer no Kunstmuseum Basel, na Suíça, em março. Logo depois, ela itnerará para Tate Modern, em Londres, e o Museu de Arte Moderna de Nova York.