“e que nos tarde a tarde” de Carla Duncan na OMA Galeria

Carla Duncan, Fermento Il, 2025. Imagem: Divulgação

A OMA Galeria apresenta a partir de 4 de outubro a exposição e que nos tarde a tarde, primeira individual de Carla Duncan. A artista paraense, que atualmente integra a 2ª Bienal das Amazônias com obras que retratam os fluxos urbanos de sua cidade natal, agora volta o olhar para o interior das casas. Com curadoria de Luiza Testa, a mostra apresenta 13 pinturas inéditas que giram ao redor das mãos e do hábito latino-americano de se reunir em torno da mesa.

As obras de Carla retratam ambientes domésticos banhados pela luz quente e acolhedora da manhã e do meio-dia, onde mãos que pertencem a rostos desconhecidos descascam, cortam, temperam e compartilham alimentos. As cenas remetem aos laços comunitários que se formam ao redor da mesa, espinha dorsal da cultura brasileira e de tantos outros países do sul global. Ao focar nas mãos, a artista destaca o que os gestos envolvidos no preparo das refeições carregam: “São atos do dia a dia que tem muita memória, jeitos de viver, que carregam histórias e não só um meio para chegar em um resultado”, declara Carla.

Porém, a série não romantiza o universo da casa. Carla também revela as disputas políticas envolvidas nesses espaços íntimos: em suas pinturas, as mãos que planejam, organizam e preparam os alimentos pertencem exclusivamente a mulheres. Como observa a curadora Luiza Testa, “Em muitas tradições, os homens se servem primeiro e se levantam primeiro, relegando às mulheres os preparativos e a arrumação: há mãos que elaboram e há as que apenas fruem.”

A técnica pictórica de Carla contribui para a atmosfera das obras: a artista trabalha com camadas de cores intensas como base – azuis, vermelhos e rosas vibrantes – que “aquecem” os cenários domésticos pintados sobre elas, conferindo luminosidade especial às imagens.

Carla Duncan vem ganhando destaque no cenário artístico nacional. Neste ano, além de participar da 2ª Bienal das Amazônias, foi indicada ao Prêmio PIPA, uma das principais premiações de arte contemporânea do país. Suas obras já integram o acervo do Museu de Arte do Espírito Santo e foram contempladas com prêmios aquisitivos nos salões de arte de Campo Mourão e Vinhedo.