“Espaços de nossas solidões” de Gina Dinucci na Lança Galeria

Obra de Gina Dinucci / Divulgação

O filósofo francês Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) escreveu que “o visível não é apenas aquilo que se mostra diante de nós, mas também o entrelaçamento invisível que o sustenta.” É nesse território que se situa “Espaços de nossas solidões”, exposição individual da artista visual Gina Dinucci que abre no dia 20 de setembro de 2025 (sábado), das 10h às 15h, na Lança Galeria, no Centro de São Paulo, na qual a artista constrói passagens entre lembrança e materialidade, ausência e
presença, apagamento e permanência. Curadoria de Valquíria Prates e Leandro Nunes.

O conjunto de trabalhos reúne fotografias refotografadas, monotipias, pinturas, instalações e experimentações em materiais como carbono, cera, tecido e madeira. Entre delicadeza e densidade, Dinucci investiga como imagens, gestos e objetos podem reter aquilo que escapa, transformando resíduos e sombras em presença sensível.

Obras como Anima (2010) e Lembrancinha (2010) lidam com arquivos fotográficos que se dissolvem na escuridão, trazendo à tona espectros que resistem ao tempo. Já em Yakushima (2023) e na série Espaços de nossas solidões (2024), a memória se desdobra em paisagens, mapas e passagens, evocando o constante deslocamento entre mundos.

Um dos pontos altos da exposição é Noir (2024/25), iniciado durante residência artística em 2024, em Clermont-Ferrand — cidade circundada pela Chaîne des Puys, cadeia com cerca de oitenta vulcões adormecidos, entre eles o célebre Puy de Dôme. Bordado em papel carbono sobre tecido, Noir instaura o paradoxo de bordar a escuridão, convertendo resíduos em delicadeza ritual. Uma curiosidade: devido à sua densidade e acabamento, muitas pessoas que tiveram contato com a obra em território francês acreditaram, ao observá-la à distância, que se tratava de rochas vulcânicas. Essa ambiguidade visual — entre matéria fabricada e vestígio mineral — reforça a potência do trabalho, que pulsa entre sombra e permanência.

A mostra acentua a dimensão ritual e poética da prática de Gina Dinucci, convidando o espectador a perceber não apenas o que se mostra à vista, mas também aquilo que persiste em se insinuar — silhuetas, vestígios, presenças latentes.