História das Bienais | Bienal de Veneza

Já está no ar o primeiro episódio da nova temporada do nosso podcast, sobre a origem da primeira bienal do mundo e sua relevância internacional

por Diretor
6 minuto(s)

Olá, começamos mais uma temporada do podcast ARTEQUEACONTECE. Curadora e pesquisadora em artes visuais, Mariane Bellini será sua host neste episódio. Vamos aprofundar nesse universo singular, absolutamente complexo, incrível, que é a arte. Vamos discutir sobre arte contemporânea na contemporaneidade, sobre os artistas e como eles pensam. Em cada episódio, conversamos e mergulhamos no mundo da arte de uma maneira descomplicada. Nosso objetivo é aproximá-los dessa produção tão humana e tão singular, que é a arte.

E se você não conhece o AQA? Bom, tá na hora de conhecer. Somos uma multiplataforma atuante no campo da arte há anos, produzindo conteúdo e promovendo ações online e offline voltadas à difusão da arte contemporânea. Trazemos informações sobre os agentes do circuito e está por dentro de discussões relevantes sobre o mercado e temas curatoriais. E o podcast faz parte desse projeto. Para essa temporada, nos dedicamos a olhar para a história das bienais, tanto a de Veneza como a de São Paulo, aproveitando que 2025 é o ano da Bienal de São Paulo.

Juntos, vamos investigar a história da arte e a produção de artes visuais na contemporaneidade: como os artistas produzem, como as exposições se organizam e como funciona a curadoria. Nessa temporada, vamos adentrar o complexo universo dos grandes eventos dispositivos que são as bienais.

Mas para entrarmos nessa história, precisamos voltar um pouco no tempo e embarcar na origem desses grandes eventos mundiais internacionais e como as sociedades eram configuradas no passado e incentivaram modelos dispositivos que temos até hoje. Um desses eventos foram as grandes exposições universais e, claro, a Bienal de Veneza, que modela exposições posteriores, como a que temos em São Paulo. Quando o mundo começou a se globalizar, a entrar na modernidade, as distâncias se encurtaram, o mundo começou a ficar pequeno propriamente, e o conhecimento começou a circular com muito mais rapidez. Em meados do século 19, as chamadas grandes exposições universais de Paris foram realizadas com o objetivo de mostrar os avanços tecnológicos, industriais e também artísticos de diferentes países. Essas exposições tiveram um grande impacto na história e na cidade de Paris, é claro, em que sua estrutura urbana se alterou por completo.

Em 1889, foi uma edição marcante: a comemoração do centenário da Revolução Francesa e a inauguração da Torre Eiffel, que foi construída especialmente para esta data. No entanto, temos que comentar que nada era tão neutro assim. Cada um desses eventos veio também com suas controvérsias, especialmente no campo do debate de seu impacto social e cultural, reiterando a exclusão e, principalmente, o olhar extrativista imperialista, sendo totalmente eurocêntricas, e da forma como reforçaram preconceitos, como o uso de termos como “primitivos” ou “exóticos”.

Nesse momento, será que apenas nesse, a Europa se entendia como a grande detentora do conhecimento, o que fez com que culturas, regiões, línguas fossem absolutamente apropriadas. E por que que eu estou falando tudo isso? Porque aí que o mundo começa a ser pequeno, há um espírito de tempo ligado à industrialização, e a arte, bom, a arte é uma produção social, é um modo de se viver no espaço-tempo.

Se fomos pensar nessa época, Monet pintou a paisagem esfumaçada da poluição gerada pelos carvões. As tecnologias para uma arquitetura e a constituição das sociedades, e sem sombra de dúvida, também sempre interferiram na arte. Mas vejam, as tecnologias são sempre parte do cotidiano dos artistas. Foi pela industrialização que tiveram a criação das tintas a óleo em tubo, no início do século XIX, gerando autonomia aos artistas, permitindo a saída ao ar livre, captando a luz e a atmosfera em tempo real.

Com a aparição da fotografia, a pintura se influenciou bastante, como no caso de Degas, que buscava capturar instantes, cortes inusitados e até borrões causados por movimentos, ou seja, bebia na fonte da fotografia e seu imediatismo. E como todos esses fatores e acontecimentos contribuíram para o surgimento das grandes exposições?

Bom, se pensarmos, Veneza é uma cidade histórica que remonta ao século quinto e até hoje um dos maiores fluxos turísticos da Europa. O número de visitantes supera centenas de vezes a população local anualmente. Em relação ao comércio marítimo, foi uma cidade importante na rota da seda e totalmente independente. Lembrem-se que a Itália era toda desmembrada em repúblicas, reinos, o que fazia com que cada uma tivesse um modelo político e econômico diferente. Muito antes de uma bienal, a cidade já possui um fluxo artístico, ou monumentos assinados pelas ruas e vielas de Titiano, Veronese e Tintoretto. Não era uma cidade isolada, pelo contrário, era caminho de navegação, de trocas comerciais e, claro, de arte e cultura. Dentro dessa levada industrial de globalização, inicialmente o objetivo era criar uma exposição bienal somente de arte italiana. Em abril de 1893, a Câmara Municipal de Veneza, junto do prefeito Ricardo Selvatico, aprovou uma resolução para criar o evento.

Então, durante 1893, se tomaram as primeiras decisões que viriam a estruturar o formato da Bienal: adotar um sistema por convite, reservar uma sessão também para artistas estrangeiros e, por fim, admitir obras de artistas italianos não convidados, selecionados por um júri.

Então, no inverno de 1894/1895, dedicaram-se à construção do palácio de exposição no Giardini di Castello. O projeto era do arquiteto do conselho Enrico Trevisanato e a fachada neoclássica do artista veneziano Marius de Maria. Em abril de 1895, foi inaugurada, portanto, a primeira exposição internacional de arte da cidade de Veneza. O evento foi TÃO, mas TÃO estrondoso, que o rei e a rainha, Humberto I e Margherita de Savoia, estiveram presentes. As pessoas estavam curiosíssimas e sedentas. A mostra teve grande público, contou com 224 mil visitantes. Vocês conseguem imaginar essa quantidade de pessoas para ver uma exposição em 1895? Realmente foi um fenômeno.

E essa história vai se prolongando. A cada dois anos vem um novo projeto, com conceito curatorial, com artistas convidados, com obras de arte realizadas especificamente para ocupar os espaços da Bienal. Um desses espaços que foi integrado posteriormente é o Arsenale, que costumava ser o maior centro de produção de Veneza durante a era pré-industrial, e chegou a ter até 2 mil trabalhadores por dia. Portanto, era um símbolo de poder econômico, político e militar da cidade. Desde 1980, a estrutura do Arsenale se tornou, então, um local expositivo, por ocasião da primeira exposição internacional de arquitetura. De forma bem geral, a estrutura da Bienal é composta por uma exposição principal no pavilhão central, o Giardini, que abriga pavilhões de países, inclusive o do Brasil. A construção de pavilhões estrangeiros começou em 1907, com incentivo de que seria um entendimento entre nações para apresentar em exposições de um ou mais artistas. E esses pavilhões deveriam ser custeados pelo país convidado, e não pela Bienal, nem pela Itália. A Alemanha construiu em 1909, a França, em 1912, e foram se expandindo. O do Brasil foi feito só lá em 1964.

Muitos artistas brasileiros fizeram parte dessa história, como Cícero Dias, Emiliano Di Cavalcanti, Alfredo Volpi, Hélio Oiticica, Anna Bella Geiger, Tunga, Baltércio Caldas, Ernesto Neto e Glicéria Tupinambá, que foi, inclusive, a primeira artista indígena a representar o Brasil no pavilhão nacional em 2024. Além disso, ainda existem mostras colaterais que ocorrem por toda a cidade, ou seja, ano de bienal é ano de atividade na cidade: tem festival de cinema, mostras paralelas, eventos culturais, enfim, é uma grande oportunidade para respirar arte.

Outra coisa muito legal, mas muito legal, é o Leão de Ouro, que é a premiação para a melhor participação nacional, para o melhor participante da mostra principal e também um Leão de Prata para o mais promissor jovem participante no programa principal. Em tantas edições, várias temáticas já foram abordadas. Alguns temas, inclusive hoje, são considerados impensáveis, mas a instituição foi se integrando, buscando acionar pesquisadores e curadores para ser mais representativa e inclusiva. Em alguns casos, países boicotaram a edição e muitos debates foram abertos por conta da Bienal. A edição da época da pandemia foi atrasada em um ano e, afinal, voltaram à programação em 2022. Em 2024, tivemos pela primeira vez um curador brasileiro, Adriano Pedrosa, que assumiu a frente da edição.

Em 1895, a Bienal de Veneza foi criada e, desde então, é um termômetro para a arte global. Isso sem sombra de dúvida. Baliza carreiras de artistas, orienta discussões curatoriais e inserções no mercado de arte, mas percebam que foram poucas curadoras que assumiram a frente do projeto curatorial. Uma delas, Cecilia Alemani, que foi a primeira mulher italiana a atuar como diretora artística da Bienal e a quinta a ser curadora da exposição, chamada “O Leite dos Sonhos”, em 2022, que foi uma homenagem à surrealista Leonora Carrington. A Bienal de Veneza é uma das mais tradicionais instituições organizadoras de eventos culturais no mundo, com uma história já centenária desses encontros, oferecendo uma consolidada plataforma para a diversidade da produção de arte contemporânea global.

E o nosso Brasilzão?

A primeira participação foi em 1950, na 25ª edição, e na época o Ciccillo Matarazzo já tinha criado o MASP de São Paulo, e não só isso, já estava planejando o projeto para a realização de uma bienal internacional no Brasil. Bom, juntou a vontade com a oportunidade de levar a delegação de brasileiros para posicionar nosso país e, claro, realizar um networking para trazer as delegações depois para a nossa bienal. Mas por agora, eu já falei bastante, e mais sobre essa história, vocês vão ouvir nos próximos episódios. Começamos nossa conversa delineando um pouco sobre o que são essas grandes mostras, para chegarmos finalmente nela, a Bienal de São Paulo. Mas isso vai ficar para o próximo episódio.

E fiquem ligados no Arte Que Acontece, que para além do podcast faremos uma cobertura incrível da próxima edição da Bienal de São Paulo.

Este podcast é uma produção ARTEQUEACONTECE. A pesquisa, roteiro e apresentação são de minha autoria, Mariane Bellini, a edição e a sonorização de Bruno Palazzo e Marcelo Zapp. Até o próximo programa.

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