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“Àkùko, Eiyéle e Ekodidé – Uma revoada de Alberto Pitta” na Nara Roesler

2 setembro -10:00 até 26 outubro -18:00

Alberto Pitta, “Revoada”, 2025. Crédito: Flavio Freire

A Nara Roesler São Paulo apresenta a exposição “Àkùko, Eiyéle e Ekodidé – Uma revoada de Alberto Pitta”, com 24 obras recentes e inéditas do artista nascido em Salvador, em 1961. Na abertura da exposição, em 2 de setembro de 2025, às 18h, será lançado o livro “Alberto Pitta” (Nara Roesler Books, 2025), com 152 páginas, formato de 17,5 x 24,5 cm, capa dura com serigrafia, bilíngue (português/inglês) e texto de Galciani Neves – curadora da mostra – além de uma entrevista dada pelo artista a Jareh Das, curadora que vive entre a África Ocidental e o Reino Unido. A introdução é de Vik Muniz, amigo do artista desde que ambos participaram da exposição “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé”, com curadoria de France Morin, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em 2000.

Na exposição, estarão pinturas e serigrafias sobre tela e um carrinho de cafezinho, em madeira – uma referência aos coloridos carrinhos usados por ambulantes para vender cafezinho em Salvador, e também ao trabalho mostrado na coletiva “A Quietude da Terra”, em 2000. Em uma vitrine, estarão desenhos sobre papel, de várias épocas, que mostram seu processo criativo.

Galciani Neves assinala que na produção de Alberto Pitta “muitas imagens começam em traços a lápis no papel”. “Dali, migram para a tela, quase sempre em grande formato. O processo ocorre aos poucos, cada camada adicionada, cada cor reconfigura o espaço pictórico, enriquece-o de informação visual. Pitta cria cenas com as texturas. Quando vistas de longe, as telas parecem transformar os personagens e os fundos num todo-paisagem. De perto, ressaltam suas muitas e pequenas texturas e estampas. A sobreposição de texturas, o ‘avizinhamento’ de formas e a convivência de cores constituem uma totalidade muito complexa, sugestiva de distintas percepções da imagem”.

HISTÓRIAS PRIMORDIAIS
A curadora observa que nos trabalhos de Alberto Pitta “as formulações espirituais são traduções visuais que apresentam as divindades, os orixás e seus ensinamentos”. “Um compêndio de símbolos reinterpretados pelo artista prima pela beleza das formas. As histórias primordiais contadas nas telas identificam as figuras que no passado mítico participaram dos acontecimentos e que no agora ocorrem como chaves de decifração oracular da vida. Sua produção envolve um ver como artista que rima com aprender sobre a vida”.

Alberto Pitta foi criado entre panos e tecidos, trabalhados por sua mãe, a ialorixá Anísia da Rocha Pitta e Silva, conhecida como Santinha de Oyá, do Ilê Axé Oyá, costureira e bordadeira do elaborado ponto richelieu, além de educadora. Desde cedo o artista compreendeu a importância das vestimentas como ferramentas de transmissão das cosmovisões africanas, uma forma de inserir o homem na natureza e colocá-lo em contato com seus ancestrais.

Na entrevista dada a Jareh Das – cocuradora da mostra “Catch the Invisible” [Capturar o invisível], na Galerie Atiss, em Dacar, no ano passado, em que Pitta fez a escultura monumental “O barco do assentamento” – ele conta que a serigrafia “permite a produção em grande escala, embora ainda artesanal”. “Tenho um acervo de mais de duzentas matrizes serigráficas, desenvolvidas ao longo de mais de 45 anos. Em minhas obras faço sobreposições de diversas estampas e cores, criando diferentes composições com resultados ímpares e quase infinitos. Quando Bonaventure [Soh Bejeng Ndikung, curador da 36ª Bienal de São Paulo] esteve aqui em meu ateliê, em 2024, e viu todas as matrizes enfileiradas, as chamou de ‘biblioteca’. Nunca havia pensado nas matrizes sob esse aspecto, mas é algo que faz muito sentido, pois por meio dessa técnica descobri uma forma poderosa de comunicação, que transcende a alfabetização tradicional. A estampa se tornou uma maneira de ‘escrever’ no tecido para quem não sabe ler, e com isso proporcionar o ‘encontro de analfabetos’ no meio do Carnaval para contar nossa história, celebrar nosso legado e honrar nossa herança. Daqueles que vêm da academia e têm interesse manifesto pelos blocos afro e desfilam nessas organizações – pessoas que não são do candomblé ou que não estão ligadas a essa cultura precisam ler nas palavras para poder entender, tentar entender – com aqueles que não tiveram a oportunidade de ir à escola, mas que, por outro lado, sabem ler os símbolos e signos ali depositados. Passei a ver os têxteis como uma segunda pele, um meio pelo qual poderíamos simbolicamente ‘tatuar’ nossa identidade nos corpos negros suados, transformando-os em expressões móveis e livres da cultura”.

Galciani Neves aponta o “senso de coletividade” existente no ambiente em que vive Alberto Pitta como elemento fundamental no trabalho do artista. “Localizado no bairro do Pirajá, em Salvador, o ateliê de Pitta habita o mesmo espaço do Instituto Oyá, fundado por Mãe Santinha de Oyá em 1990”, relata. “O Instituto nasceu com vocação educativa, oferecendo programação de arte-educação e aulas de reforço escolar para as crianças da vizinhança. Pitta já trabalhava com criações visuais estampadas em vestimentas para blocos de Carnaval desde o final dos anos 1970; na década de 1980, passou a produzir estampas para o Olodum. Em 1998, quando criou o Cortejo Afro, o Instituto ganhou mais força ao diversificar suas atividades: cursos de corte e costura, oficinas de estamparia, aulas de música e capoeira. O ateliê de Pitta brotou do âmago dessas atividades e cresceu porque tudo acontecia junto, com a vibração das pessoas que frequentavam e conviviam com todo esse ecossistema”.

PITTA PENSA COM ARTE
“Por articular sua produção de maneira indissociável de toda essa multiplicidade de atividades, linguagens e instâncias vitais, por conviver com as pessoas que frequentam e usufruem da programação oferecida ou que participam de seus projetos, e agindo com rigor e uma escuta muito sensível aos processos de experimentação poética, Pitta pensa com arte, desde sua raiz, como uma espécie de pedagogia da alegria”, diz Galciani Neves.

ÀKÙKO, EIYÉLE E EKODIDÉ
A curadora destaca que na exposição três pássaros “aparecem com protagonismo nas telas de Pitta: Àkùko, Eiyéle e Ekodidé se espalham a partir de uma organização cromática do espaço da galeria Nara Roesler”. “Eles habitam a primeira série de trabalhos, na qual predominam composições em preto, branco, vermelho e amarelo, como se dessem boas-vindas ao público; em seguida explodem em cores vibrantes e composições multicoloridas, para encantar; e, por fim, acontecem na calmaria de telas brancas – onde distintos matizes de branco compõem o trabalho”.

Galciani Neves explica que “na ampla cultura yorubá os pássaros se apresentam como seres divinos”. “São guardiões das comunidades, evocam energia positiva e guiam as pessoas em situações adversas. Esta reunião de obras revigora, assim, o sentido de revoada: voar em bando, como aves da mesma espécie; coreografar no céu uma coletividade; migrar junto; mover-se rumo a um destino certo”.

MENSAGEIRO DO TEMPO
Àkùko “é frequentemente associado a um galo – o mensageiro do tempo, que anuncia o dia, que explica a ancestralidade e afirma a continuidade da vida. Eiyéle é a pomba branca, que traz a paz, a harmonia e a bem-aventurança. Por sua elegância e plumagem, Eiyéle também simboliza honra e prosperidade. Ekodidé é a única pena vermelha de um pássaro ou o papagaio, um símbolo de proteção, vitalidade, realeza. Sua pena é um elemento natural e uma presença essencial nos rituais de iniciação, para afastar energias negativas e consagrar objetos”, conta Galciani Neves.

Ela complementa: “Apresentar esses seres no campo da arte é acreditar que sua revoada pode ser um sopro de transformação para reanimar os ares, reorganizar os pensamentos, renovar as esperanças, refazer as conexões. O gesto artístico e insurgente de Pitta – como nos diz a poeta, pesquisadora e dramaturga brasileira Leda Maria Martins – é um dos que mais transformam, pois afeta as imagens estéticas inscritas como únicas e verdadeiras. Por isso, trata-se de um gesto que, por refazer as narrativas e apresentar novos caminhos para enxergar o mundo, nos mobiliza a viver com esperança (“o fermento da revolução”, o que faz emergir o novo, segundo o filósofo e professor sul-coreano Byung-Chul Han) e nos encoraja a reivindicar ambientes onde possamos celebrar, nos alegrar e regozijar”.

MUSEU E A RUA
Vik Muniz, na introdução do livro, afirma que “nos panos dos abadás, uniformes dos blocos afro e blocos de índios sua linguagem se moldou, impregnada de referências ancestrais e desafiada pela multitude de propostas temáticas resultante da autonomia criativa dos carnavalescos. Pitta é protagonista e produto desse encantamento pleno de tradição, mas não vazio de liberdade”. “Sua pintura se alimenta diretamente da pesquisa e do trabalho com seus tecidos e eventos. Muito da nossa amizade de quase três décadas decorre desse importante discurso entre o museu e a rua. E, nessa equação, Pitta aparece sempre como a pecinha que faltava no quebra-cabeças do popular e do erudito”, salienta o artista. Vik Muniz destaca ainda que “o ateliê do artista fica instalado num galpão que ocupa o mesmo terreno da casa de Mãe Santinha e seu terreiro”. “O barracão de cerimônias do Ilê Axé Oyá foi desenhado por Lina Bo Bardi (1914-1992) – e projetado e adaptado por Marcelo Suzuki — na época em que a arquiteta viveu na Bahia para fazer projetos no centro histórico da cidade”.

CARRINHOS DE CAFEZINHO
Na Nara Roesler São Paulo, Alberto Pitta vai mostrar um carrinho de cafezinho, feito em madeira, na forma de um caminhão de brinquedo, em alusão aos “carrinhos de cafezinho”, muito comuns em Salvador, usados pelos vendedores ambulantes para vender café, normalmente já adoçado com açúcar, colocado em garrafas térmicas e servido em copos de plástico. Para a exposição “A Quietude da Terra: vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé”, em 2000, no Museu de Arte Moderna da Bahia, com curadoria de France Morin, Alberto Pitta desenvolveu um projeto inspirado no seu envolvimento duradouro com esses carrinhos de cafezinho, desde os treze anos de idade, quando criou seu primeiro carrinho de cafezinho.

Detalhes

Início:
2 setembro -10:00
Final:
26 outubro -18:00
Categoria de Evento:
Website:
https://nararoesler.art/

Local

Nara Roesler
655 Av. Europa Jardim Europa
São Paulo, São Paulo Brasil
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