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“A vida interior das plantas de interior” e Daniel Jablonski na Janaina Torres Galeria

23 agosto -10:00 até 4 outubro -16:00

Daniel Jablonski, “Babosa, aloe vera (Série Flora imperial)”, 2025. Crédito: Daniel Jablonski

De 23 de agosto a 04 de outubro, a Janaina Torres Galeria apresenta a individual inédita ‘A vida interior das plantas de interior’, do artista visual e pesquisador Daniel Jablonski.  Em formato de instalação, a exposição transforma a galeria em um estúdio fotográfico situado “fora do tempo”, integrando elementos dos séculos 19 ao 21, como tapetes persa, adereços cênicos, equipamentos fotográficos e uma planta estabilizada em laboratório. 

A obra toma por objeto deflagrador duas imagens bastante conhecidas, mas pouco estudadas da iconografia do Brasil Império: retratos oficiais de Dom Pedro II e de Thereza Cristina, realizadas pelo portugês Joaquim Insley Pacheco em 1883, em que os monarcas figuram ao centro de elaborados cenários vegetais. Estas imagens, que apontam para a ideia do Brasil como um vasto  império florestal, foram desconstruídas e retrabalhadas por Jablonski, inicialmente em 2023, para a ocasião da exposição virtual Espaço mítico natural, parte do CLAC- Círculo Latino-americano de Arte Contemporânea, curado por Charlene Cabral. Agora, em 2025, na Janaína Torres Galeria, o artista dá continuidade (e sobretudo materialidade) à pesquisa que toma a forma de uma grande instalação imersiva, que se confunde com o próprio espaço expositivo. 

Em uma pesquisa híbrida realizada com botânicos, engenheiros agrônomos, historiadores e artistas 3D, Daniel Jablonski constatou que, longe de serem representações fiéis da flora brasileira, essas imagens já são uma colagem de plantas ornamentais da época, muitas delas nativas de outros continentes. Esse simulacro florestal é analisado e desconstruído em um conjunto de obras realizadas em distintos suportes (filme, fotografias, materiais documentais e até mesmo uma planta “embalsamada” sobre um bloco de concreto) que compõem a instalação imersiva. 

Reimaginando as sessões de pose dos imperadores diante do aparelho, a instalação convida o público a refletir sobre a construção e (a exportação) de uma imagética de brasianilidade. Esta parte da tradição do retrato no Brasil Império, na qual a representação da natureza tem um lugar privilegiado, atravessa a questão da identidade nacional na modernidade industrial e culmina no paisagismo dos “interiores” — escritórios, halls e shopping centers — de nossas capitais contemporâneas. 

A exposição escancara como, por trás do discurso ecológico do design biofílico e da arquitetura verde, há em realidade uma espécie de biofobia. O maior exemplo disso é a tecnologia chamada nos anos 1970 de “preservação de plantas”, que consiste em estabilizar plantas em laboratório, operação que as mata, mas mantém sua forma exterior, sua aparência intacta, uma tecnologia análoga ao empalhamento de animais. “Nesta pesquisa uma tecnologia em particular me chamou a atenção: a dita “preservação de plantas”. Colhidas no auge de sua vitalidade, estas plantas têm sua seiva substituída em laboratório por um composto de glicerina, água, substrato e corante alimentar. Assim, podem manter sua aparência original por anos — desde que não sejam regadas ou expostas à luz solar. Mais realistas que plantas artificiais, pois um dia vivas, mais baratas que plantas naturais, pois agora mortas, sua única manutenção é um mero espanador”. Comenta Daniel Jablonski. Ao substituirmos a natureza por plantas de interior, muitas vezes mortas-vivas, diz o artista, “acabamos substituindo o próprio sentido da preservação por uma forma de greenwhasing decorativo que vem sendo adotado por empresas, dentro e fora de seus escritórios”. Jablonski acrescenta: “O capitalismo não apenas destrói a natureza. Ele trabalha também para recriá-la em nossos lares, condomínios  e centros comerciais, sob a forma verdadeiramente paradoxal de “plantas de interior”. Ainda que perfeitamente materiais, essas plantas decorativas  não passam de imagens; elas são os fragmentos simbólicos  de uma nova natureza criada sob medida  para espaços onde a vida seria em tese impossível.”, conclui o artista. 

Assim, é pela via (aparentemente indireta) do questionamento da função das plantas de interior na contemporaneidade, que Jablonski nos oferece um indício (e acende o pavio) para uma reflexão mais ampla sobre apropriações imagéticas e simbólicas, como por exemplo, as que estão na base da construção de um imaginário nacional. No caso do Brasil, um discurso  que tenta diluir o abismo entre o país real e aquele que é contado (ou visto) mundo afora. 

“A maneira como Daniel Jablonski articula arte e cultura é sui generis, particularmente nos trabalhos em que ele elabora representações do Brasil no imaginário estrangeiro. No caso dessa exposição em particular, ele aborda de maneira irônica e original um certo discurso sobre a natureza e a maneira com que isso foi, e ainda hoje é tratado pelas iconografias, digamos, oficiais. Complementa Janaina Torres”, galerista que o representa.

Como é o caso em muitos dos projetos do artista, o título ‘A vida interior das plantas de interior’ é uma apropriação literária. Trata-se aqui  de um empréstimo direto de um livro de 2013 do escritor argentino Patrício Pron, com o qual a exposição não partilha outras afinidades, formais ou temáticas.

Detalhes

Início:
23 agosto -10:00
Final:
4 outubro -16:00
Categoria de Evento:
Website:
https://janainatorres.com.br/

Local

Janaina Torres Galeria
Rua Vitorino Carmilo, 427 - Barra Funda
São Paulo, SP Brasil
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