Pequeno dicionário curatorial da 36ª Bienal de São Paulo

Um guia para entender os conceitos, nomes e expressões que estruturam a edição deste ano

por Luiza Alves
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Registro de Hadra, performance final com Lalla Khala e as Gifted Mothers of Dar Bellarj durante a primeira Invocação da 36ª Bienal de em Marrakech, 2024 © Youssef Boumbarek / Fundação Bienal de São Paulo

Hoje (26/08), marcam exatos 10 dias para a abertura da 36ª Bienal de São Paulo “Nem todo viandante anda estradas – Da humanidade como prática”.

Conduzida pelo curador geral Prof. Dr. Bonaventure Soh Bejeng Ndikung com auxílio da equipe de curadores Alya Sebti, Anna Roberta Goetz, Thiago de Paula Souza e Ionga large Keyna Eleison, a mostra se inspira no poema enigmático de Conceição Evaristo, “Da calma e do silêncio”.

Aglutinando uma série de palavras, expressões, personalidades e conceitos-chave para a sua compreensão, a edição se empresta de termos da geografia, biologia e uma série de outras áreas de conhecimento. Além de colocar em seu centro movimentos culturais, danças e músicas específicas do Brasil, Marrocos, Japão, do território ultramarino de Guadalupe e o estado insular da Tasmânia.

Utilizando metaforicamente esses nomes ou ressignificando a sua maneira, a edição produziu uma série de sentidos poéticos e organizacionais que se fazem necessários ter na ponta da língua para compreender os caminhos tomados pela equipe curatorial durante a concepção e também organização do evento – espacialmente e cronologicamente.

Abaixo fizemos um pequeno dicionário com o que você precisa saber para começar a entender a mostra:

Fragmento: Pequenas partes de um todo, os fragmentos na 36° Bienal indicam os três eixos curatoriais desta edição, que trarão reflexões sobre humanidade, silêncio e coexistência.

Conceição Evaristo: Professora, doutora em literatura e escritora afro-brasileira, ela teve seu verso “Nem todo viandante anda estradas” emprestado para o título da mostra, servido de guia para o primeiro fragmento que explora os mundos submersos que apenas o silêncio da poesia e a escuta poética podem acessar. Além disso, cunhou o termo “escrevivência”, no qual experiências vividas por grupos socialmente oprimidos são transformadas em literatura.

René Depestre: Poeta e escritor haitiano, cuja obra aborda temas como diáspora, resistência e identidade cultural. Sua influência permeia discussões sobre descolonização e humanidade, presentes no segundo fragmento da mostra, que destaca como nossas experiências estão conectadas e sugere uma convivência mais atenta às necessidades de todos.

Manguebeat: Foi o nome dado ao movimento cultural surgido em Recife nos anos 1990, que misturava ritmos regionais com rock, hip-hop e eletrônico. Simbólico de resistência criativa e hibridismo, a expressão serviu de base para o terceiro fragmento da mostra, em especial o manifesto “Caranguejos com cérebro”, de Fred Zero Quatro, que critica a desigualdade social e utiliza o animal típico dos manguezais como metáfora para a representação do cérebro social coletivo.

Invocação: Se no dicionário formal o termo significa “chamar em auxílio”, na 36ª Bienal ele nomeia os encontros de poesia, música, performance e debates realizados previamente pela curadoria da exposição, em trocas culturais nos territórios de Marrakech, Guadalupe, Zanzibar e Japão.

“Souffles”: Do francês, a palavra significa respirações. Na 36ª Bienal, o termo faz parte do título da primeira invocação “Souffles: Sobre escuta profunda e recepção ativa” e foi emprestado do título de um poema de mesmo nome do poeta senêgales Birago Diop sobre o potencial de escutar uma abundância de seres – animados e inanimados. A palavra também nomeou uma revista literária e política fundada em Marrocos nos anos 1960, símbolo do pan-africanismo e da descolonização cultural.

Gwoka: Tradição musical e dança de Guadalupe, reconhecida pela UNESCO como patrimônio imaterial. É a expressão cultural explorada no centro da segunda invocação “Bigidi mè pa tonbé”. Baseada na improvisação e alternância de momentos de ruptura e continuidade, a expressão exprime a ideia do esforço necessário para se manter o equilíbrio.

Taarab: Gênero musical nascido em Zanzibar que mistura melodias árabes, indianas e africanas. Expressão central da terceira invocação “Improvisação como espaço e tecnologia da humanidade”, o Taarab é associado ao sincretismo e diáspora, refletindo a riqueza dos encontros culturais de influências africanas, árabes, asiáticas e europeias.

Masahiro Mori: Roboticista japonês, conhecido por desenvolver a teoria do “Valley Uncanny” (Vale da Estranheza), que explora a fronteira entre humano e artificial. Sua obra dialoga com questões sobre tecnologia e existência trabalhadas durante a quarta invocação curatorial “O vale da estranheza – A afetividade do humanoide”, realizada em Tóquio.

Conjugações: As invocações marcaram os encontros institucionais e curatoriais que antecederam a 36ª Bienal e contribuíram para a concepção da mostra. Já as “Conjugações” dão nome ao programa público do evento, momento de partilha entre curadoria, visitantes e artistas.

Estuário: Emprestado da geografia, o termo identifica o local onde o rio deságua no mar. Funcionando como uma metáfora desta edição, os estuários representam os encontros culturais, históricos e existências que forjam as diversas noções de humanidade pelo mundo.

Humanidade: Mais do que um conceito fechado, na mostra a humanidade é uma pergunta em aberto, uma prática a ser reencontrada. Palavra central em seu título e concepção, ela aparece como experiência coletiva e plural, expressa nos três eixos curatoriais.

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