“Entre o céu e a terra, o vórtice poético de Luiz Alphonsus” na Galeria Superfície

Luiz Alphonsus, “Caos-Cosmo” (detalhe), 1998-1999 – Cortesia Galeria Superfície

A Superfície apresenta Entre o céu e a terra, o vórtice poético de Luiz Alphonsus, exposição individual que apresenta a produção de um dos principais expoentes da arte conceitual nacional e das práticas ambientais. Com curadoria de Diego Matos, a mostra constrói um panorama da obra de Luiz Alphonsus, tanto em termos históricos quanto poéticos, permitindo atualizar e restabelecer sua relevância histórica.

Natural de Belo Horizonte, Luiz Alphonsus mudou-se para o Rio de Janeiro aos sete anos, em 1955, lugar onde vivenciou a infância. Anos depois, foi com a família para Brasília, onde morou entre 1961 e 1969. Neste ano, voltou e se estabeleceu em definitivo no Rio de Janeiro, onde firmou-se como artista próximo à comunidade artística que vivenciava o Museu de Arte Moderna do Rio (MAM Rio). Foi nesse período que ele fundou a Unidade Experimental do Museu de Arte Moderna [MAM], ao lado de Frederico Morais, Guilherme Vaz e Cildo Meireles: encarada como um laboratório de pesquisa de novas linguagens, a UE  discutia não só a participação e presença do espectador na obra, mas os próprios limites das categorias artísticas, do papel do próprio artista, do crítico e das instituições, dentro do circuito das artes.

Fotógrafo, pintor, escultor e artista multimídia, a obra de Luiz Alphonsus é marcada pelas formações geológicas e situações político-geográficas de seus arredores, além de uma preocupação em construir um entendimento poético da ideia de espaço (espaço como lugar ou espaço como cosmos). Hora os mares de morro do Rio de Janeiro, hora o céu de Brasília, a consciência espacial e contextual é “marca indelével e coluna vertebral de sua práxis artística”. Como esclarece o curador: 

“Se de um lado há o imponderável da arte, o devaneio, o delírio e o sonho, por outro há um interesse genuíno pela razão poética das ciências (matemática, física, astronomia e geografia) e a busca, pelo viés da arte, pela compreensão do binômio espaço-tempo que nos determina e nos rege no mundo.”

Luiz Alphonsus esteve presente em importantes coletivas que posteriormente se tornaram marcos para a arte brasileira: participou do 4º Salão de Arte Moderna do Distrito Federal (1967); da 2ª Bienal Nacional de Artes Plásticas, no Museu de Arte Moderna da Bahia (1968); do Salão da Bússola (1969) com o trabalho Túnel; da XI Bienal de São Paulo com a instalação Dedicado a paisagem do nosso planeta; e da mostra Expoprojeção São Paulo (1973) com o vídeo Aos Desaparecidos.

Dividida em três núcleos — Céu: espaço e cosmos, Terra: território e paisagem e Presença: lugar e cidade — a exposição apresenta ao público um de seus trabalhos mais fundamentais. Negativo/Positivo, de 1970, explora a natureza enquanto objeto da fotografia e máquina fotográfica simultaneamente, usando do tempo transitório e incandescente do fogo para registrar uma “escrita da luz”. O próprio título da exposição faz referência a esse movimento pendular de negativo-positivo: para Diego Matos há um vórtice central que sustenta a produção do artista, conectando os ambientes físicos e simbólicos do céu e da terra. 

Com cerca de 30 obras, Entre o céu e a terra, o vórtice poético de Luiz Alphonsus tem abertura marcada para a terça-feira 10 de junho, na sede principal da Superfície, e permanece em cartaz até 2 de agosto.