Frans Krajcberg: arte como denúncia e reencontro com a natureza

Mostra no MASP reúne mais de 50 obras e destaca o papel pioneiro do artista na integração entre arte e ecologia

por Diretor
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Frans Krajcberg, Sem título, 1980

Poucos artistas no Brasil foram tão consequentes em sua relação entre vida, arte e política ambiental quanto Frans Krajcberg. Nascido em 1921, em uma família judia na Polônia, foi forçado a fugir durante a Segunda Guerra Mundial, escapando dos terríveis eventos que dizimaram seus familiares. Passou por campos de trabalho na antiga União Soviética e, mais tarde, estudou na Academia de Belas Artes de Stuttgart, na Alemanha, onde se formou em engenharia e artes. Chegou ao Brasil em 1948, país onde se naturalizou e construiu um percurso marcado pelo engajamento ecológico e por uma obra que tem a natureza como matéria e causa.

Em São Paulo, trabalhou como montador da primeira Bienal, onde também expôs duas pinturas. O reconhecimento veio na edição de 1957, quando recebeu o prêmio de Melhor Pintor. Sua produção, no entanto, ganharia outro fôlego a partir da década de 1960, quando passou a coletar pigmentos naturais e a trabalhar com cipós, troncos e raízes — elementos extraídos de regiões devastadas, como a Amazônia e o Cerrado. Inspirado pelas formas da natureza, buscava romper com as molduras tradicionais, pensamento que se consolidou nas primeiras “Sombras Recortadas”, em que experimenta a liberdade do gesto e da organicidade.

Frans Krajcberg trabalhando em uma de suas peças, Minas Gerais, década de 1960. Arquivo Nacional, Fundo Correio da Manhã

Em 1972, após temporadas em Paris e Ibiza, Krajcberg se instala em Nova Viçosa, no sul da Bahia. Seu ateliê, em meio à Mata Atlântica, transforma-se em um campo de experimentação e resistência. Ali, desenvolve esculturas de grandes dimensões com madeira calcinada e resíduos vegetais. O gesto artístico, para ele, nasce do choque diante da destruição — e a denúncia ambiental deixa de ser apenas tema para se tornar estrutura de sua produção.

Sua atuação foi além do campo das artes visuais. Em 1978, realizou uma expedição de 32 dias pelo Rio Negro, na Amazônia, ao lado do crítico francês Pierre Restany e do artista Sepp Baendereck. Dessa vivência nasceu o Manifesto do Naturalismo Integral, que propunha uma nova ética para a arte, em comunhão com os ciclos naturais e em resistência à lógica predatória da modernidade. Krajcberg também marcou presença em conferências ambientais de impacto internacional, como a ECO-92 (Rio), Kioto-97 e Davos, tornando-se uma voz ativa nas discussões globais sobre sustentabilidade.

reg. 286-16 32ª Bienal de São Paulo – Incerteza Viva. Conjunto de esculturas apelidadas de Gordinhos, Bailarinas e Coqueiros, de Frans Krajcberg. 2016/09/05 Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Com forte presença internacional, participou de diversas bienais ao redor do mundo. No Brasil, esteve em oito edições da Bienal de São Paulo, incluindo a 32ª, Incerteza Viva, em 2016, em que suas esculturas apelidadas de Gordinhos, Bailarinas e Coqueiros foram destaques. Foi premiado com a Medalha de Vermeil (França, 2012) e o Enku Grand Award (Japão, 2015), sendo o primeiro artista estrangeiro a receber a honraria.

Em 2022, seu centenário foi celebrado com uma grande retrospectiva no MuBE, em São Paulo, reafirmando sua importância como artista e ativista ambiental. Agora, o MASP apresenta Frans Krajcberg: reencontrar a árvore, exposição com mais de 50 obras em cartaz até 19 de outubro, dentro da programação anual Histórias da ecologia. Com curadoria de Adriano Pedrosa e Laura Cosendey, a mostra reafirma a dimensão pioneira de sua prática. Estão reunidos esculturas, pinturas e relevos criados a partir de cipós, pigmentos minerais e fragmentos de árvores recolhidos em áreas de queimada.

Frans Krajcberg, “A Flor do Mangue”, c. 1970

Entre os trabalhos expostos, A Flor do mangue (c. 1970) chama atenção pela forma retorcida e pelo uso de piche sobre madeira de manguezal — um dos muitos exemplos em que o artista transforma restos da destruição em estruturas que ainda carregam potência vital. Como resume Cosendey, “a arte, para Krajcberg, precisa sair dos limites da moldura e reencontrar a natureza”.

Com forte presença internacional, participou de diversas bienais ao redor do mundo. No Brasil, marcou presença em oito edições da Bienal de São Paulo, incluindo a 32ª, “Incerteza Viva”, em 2016, onde suas esculturas apelidadas de Gordinhos, Bailarinas e Coqueiros foram destaques. Foi premiado com a Medalha de Vermeil (França, 2012) e o Enku Grand Award (Japão, 2015), sendo o primeiro artista estrangeiro a receber a honraria.

Frans Krajcberg faleceu em 2017, aos 96 anos, deixando uma obra que permanece como alerta — e como gesto contínuo de reparação entre arte e floresta.

Crédito da imagem da capa: Vicente de Mello, Frans Krajcberg da série Os negativos estão em meu poder, 1992. Impressão digital em papel Baryta, 60 x 50 cm. Coleção do artista, Rio de Janeiro, Brasil. Foto: © Vicente de Mello.

Serviço:
Frans Krajcberg: reencontrar a árvore
Local: MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand – Edifício Lina Bo Bardi
Período expositivo: Até 19 de outubro de 2025
Ingresso: R$ 75 (gratuito às terças o dia todo e às sextas, das 18h às 20h30)

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