O Sacro Imperador Romano Rodolfo II (1552–1612), grande patrono das artes e das ciências, foi um dos governantes europeus mais profundamente interessados no estudo da natureza. Ele reuniu cientistas e artistas de toda a Europa em sua corte, onde passaram a trabalhar em estreita proximidade dentro dos muros do castelo, transformando Praga em um verdadeiro laboratório, um espaço de experimentação, sob um clima favorável de tolerância intelectual e religiosa.
A primeira parte da exposição apresenta essa convergência entre os olhares científicos e artísticos sobre a natureza, particularmente intensa na corte de Praga. Ela se caracteriza, antes de tudo, por uma nova abordagem, ao mesmo tempo direta e observacional. Os artistas participaram ativamente dos primeiros impulsos do empirismo, não apenas ao produzir instrumentos científicos tão esteticamente refinados quanto inovadores, mas também ao registrar o mundo vegetal e animal por meio de seus desenhos — uma contribuição fundamental para o inventário das espécies vivas então empreendido pelas ciências naturais. Assim como os cientistas, os artistas também se interessavam pelas forças ocultas da natureza, expressando-as por meio da alegoria. Todos compartilhavam uma mesma cultura humanista, geralmente adquirida por meio dos livros e herdada da Antiguidade. No entanto, o sistema coeso descrito por essas obras mais antigas não resistiu à observação atenta de um mundo natural instável e caprichoso.
A segunda parte da exposição mostra como essa curiosidade pelas formas da natureza, comum a cientistas e artistas, contribuiu para a renovação da criação artística em Praga. Práticas novas, como o desenho ao ar livre (en plein air), tornaram-se populares, e essa experiência direta da natureza incentivou os artistas a experimentar novos materiais e temas, incluindo muitos que antes eram considerados indignos de representação. Desenvolveu-se um gosto por técnicas artísticas capazes de imitar a singularidade das formas naturais e evocar a instabilidade inerente aos processos de crescimento dos seres vivos.