Artistas brasileiros em destaque pelo mundo – maio de 2025

Doze exposições em cinco países mostram a presença internacional da arte brasileira, que segue ganhando visibilidade lá fora

por Diretor
8 minuto(s)

Se tem artista brasileiro por todos os lados, não é por acaso. Nossa produção segue ganhando fôlego e visibilidade em instituições mundo afora, movida por trabalhos consistentes e investigações que se sustentam para além do contexto local.

Em Paris, a primeira edição internacional da ABERTO4 ocupa a icônica Maison La Roche, projetada por Le Corbusier, abrindo novas possibilidades de leitura entre práticas contemporâneas e patrimônios históricos. Nos Estados Unidos, Sonia Gomes instala suas esculturas têxteis no Storm King Art Center, enquanto Luana Vitra apresenta “Amulets” no SculptureCenter – logo após a Mitre Galeria, que representa a artista, vencer o Focus Stand Prize na Frieze New York 2025 por sua apresentação solo de obras de Vitra. Individuais de UÝRA, Marina Rheingantz, Patricia Leite, Igi Lólá Ayedun e Lucas Arruda também são destaques entre França, Itália, Colômbia e Espanha. Confira mais detalhes a seguir:

Lais Amaral, “Sem título I (série Lindo ninho)”, 2025

ABERTO4
Maison La Roche de Le Corbusier | Paris, França
13.05 – 08.06

Depois de três edições realizadas em São Paulo, a ABERTO estreia sua primeira exposição internacional com uma ocupação inédita da Maison La Roche, em Paris — marco da arquitetura moderna projetado por Le Corbusier e Pierre Jeanneret. A mostra reúne cerca de 40 obras de arte e design, assinadas por nomes centrais da arte brasileira, como Amílcar de Castro, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Mira Schendel, Tunga e Anna Maria Maiolino, ao lado de artistas contemporâneos como Beatriz Milhazes, Luiz Zerbini, Sonia Gomes, Erika Verzutti, Antonio Tarsis e Luísa Matsushita.

Algumas das obras foram pensadas especialmente para os espaços da casa, criando diálogos com sua paleta original, proporções e circulação arquitetônica. É a primeira vez que um projeto brasileiro ocupa a histórica residência modernista, hoje sede da Fondation Le Corbusier, estabelecendo um ponto de contato raro entre a produção artística nacional e um dos ícones da arquitetura do século XX.

Adriana Varejão, “Maragogipinho Setas”, 2025. Cortesia Gagosian

Adriana Varejão, “Histórias Moldadas”
Gagosian | Atenas, Grécia

15.05 – 14.06

“Histórias Moldadas”, primeira individual de Adriana Varejão na Grécia, apresenta quatro novos conjuntos de pinturas da série Azulejaria, desenvolvida a partir de referências cerâmicas do Brasil, da China, da Turquia e da Grécia. Varejão segue explorando o azulejo como imagem recorrente da história colonial, mas também como ponto de contato entre diferentes sistemas estéticos e culturais.

No térreo, duas salas em tons de terracota apresentam trabalhos inspirados na cerâmica tradicional de Maragogipinho, na Bahia, e em formas ligadas à arte e à mitologia grega. Um dos destaques é a pintura em forma de vaso-touro, com figura feminina que remete ao trabalho de Maria Martins. No andar superior, os azulejos monocromáticos se baseiam na porcelana celadon da dinastia Song e na cerâmica de Iznik, com composições em azul e branco marcadas por olhos, ondas e criaturas marinhas.

Sonia Gomes, Sem título, da série Tela-corpo series, 2022

“Sonia Gomes: Ó Abre Alas!”
Storm King Art Center | Nova York, EUA
07.05 – 10.11

A artista mineira inaugura sua primeira instalação ao ar livre nos Estados Unidos com “Ó Abre Alas!”. Suspensas entre os galhos de uma árvore, as esculturas feitas com cordas náuticas, redes de pesca e paracord ampliam a escala de sua produção, conhecida pelo uso de materiais têxteis reaproveitados e pela construção manual das formas.

A instalação dialoga com a paisagem e com o espírito do Carnaval brasileiro – presente tanto na composição de Chiquinha Gonzaga que dá título à obra quanto na ideia de abertura e celebração coletiva. A exposição inclui ainda uma seleção de trabalhos em sala produzidos ao longo da carreira de Gomes, que desde os anos 2000 vem articulando memória, deslocamento e materialidade em esculturas compostas por tecidos, madeiras e objetos encontrados.

Marina Rheingantz, “Mirage”
Musée des Beaux-Arts de Nîmes | Nîmes, França
30.05 – 05.10

Com curadoria de Barbara Gouget, a mostra estabelece relações entre as pinturas da artista brasileira e obras da coleção permanente do museu, cruzando diferentes períodos da história da arte por meio de aproximações formais e simbólicas. Conhecida por expandir o campo da paisagem na pintura contemporânea, Rheingantz constrói cenas onde espaço, atmosfera e memória se sobrepõem. Suas telas partem de lugares marcados pela ausência – campos de treinamento, ruínas, terrenos vagos – e funcionam como depósitos vestigiais de tempo, afetos e lembrança. Em “Mirage”, esses elementos se rearticulam em diálogo com a tradição pictórica européia. Simultaneamente a artista também está com uma individual na Bortolami Gallery, em Nova York.

Patricia Leite, “Cold Water Água fria”, 2025. Cortesia da artista Mendes Wood DM, São Paulo, Brussels, Paris, Nova York. Foto: EstudioEmObra

Patricia Leite, “Cold Water”
Fondazione Bevilacqua la Masa | Veneza, Itália
06.05 – 27.07

A mostra marca a primeira individual de Patricia Leite em uma instituição italiana – e também a primeira exposição de uma artista sul-americana no Palazzetto Tito, em Veneza. Com curadoria de Milovan Farronato, a mostra reúne uma série de trabalhos inéditos produzidos em seu ateliê em São Paulo, concentrando-se nas investigações mais recentes da artista.

Leite, que desde os anos 1990 desenvolve uma pintura pautada por silêncios, intervalos e pequenas variações cromáticas, apresenta em “Cold Water” uma sequência de obras que se alinham à paisagem, mas sem recorrer à representação direta. A exposição integra um programa dedicado a artistas que vêm contribuindo de forma consistente para a pintura contemporânea internacional. Patricia Leite também está apresentando uma individual no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, até 25 de maio.

Denilson Baniwa, “Arqueiro digital”, 2017. Cortesia do artista

“O Brasil ilustrado: a herança pós-colonial de Jean-Baptiste Debret”
Maison de l’Amérique Latine | Paris, França
30.04 – 04.10

A Maison de l’Amérique latine, em Paris, apresenta exposição que integra a programação especial dedicada às relações culturais entre França e Brasil. Com curadoria de Jacques Leenhardt e Gabriela Longman, a mostra reúne trabalhos de uma geração de artistas brasileiros contemporâneos que revisitam criticamente as imagens produzidas por Jean-Baptiste Debret no século XIX.

A mostra parte das pesquisas recentes de Leenhardt – publicadas no livro Rever Debret (Editora 34, 2023) e aprofundadas em uma nova edição pela Actes Sud – para pensar como os registros do artista francês, amplamente difundidos como representação da sociedade brasileira imperial, seguem sendo reapropriados, tensionados e ressignificados no presente.

Vista da instalação “Termômetro 1”, 2025, de Luana Vitra. Foto: Charles Bentonde

“Luana Vitra: Amulets
SculptureCenter | Nova York, EUA
01.05 – 28.07

Com curadoria de Jovanna Venegas, a individual de Luana Vitra apresenta uma nova instalação escultórica ancorada na relação entre espiritualidade, matéria e ancestralidade. Nascida em Minas Gerais, região marcada pela mineração e pela presença do ferro, Vitra desenvolve uma prática que atravessa escultura, instalação, desenho e performance, tratando os minerais como portadores de energia, memória e como mediadores entre mundos. A exposição parte de elementos como o barro, a pedra, o ferro e a areia – ativados por gestos, sonhos e rituais – para construir uma rede de formas que remetem a selamentos, desejos, pactos e forças em trânsito.

UÝRA, “Caos”, 2018 da série Mil Quase Mortos. Foto: Matheus Belém

UÝRA, “Memórias de alagamento”
Museo de Arte Moderno de Bogotá (MAMBO) | Bogotá, Colombia
13.03 – 01.06

Primeira exposição institucional individual de UÝRA na Colômbia, “Memórias de alagamento” parte da água para pensar memória, desaparecimento e reconexão.O rio, aqui, é tanto imagem quanto estrutura – conectando experiências vividas em Manaus, onde a artista atua, e em Bogotá, onde investigou o San Francisco-Vicachá, hoje soterrado sob a cidade.

A mostra reúne obras como “A porra da árvore” (2019), “A terra pelada” (2018) e a série “Mil quase mortos” (2018), que tratam dos efeitos do extrativismo e da contaminação dos rios em regiões urbanas da Amazônia. No percurso, surgem paralelos entre os muiscas, na Colômbia, e os munduruku, povo indígena do Brasil do qual UÝRA faz parte, com histórias atravessadas pela destruição dos cursos d’água, o deslocamento forçado e o apagamento de seus modos de vida.

Igi Lólá Ayedun, “You are electricity, you are light, you are sound itself, you are flight”, 2025

Igi Lólá Ayedun, “Karem”
MAĀT Gallery | Paris, França
15.05 – 21.06

A mostra toma como ponto de partida uma ideia elaborada pelo filósofo camaronês Achille Mbembe: a de “emergir da grande noite” como metáfora para os processos de contra-colonização. Nesse contexto, a artista mobiliza materiais e narrativas para pensar memória, cura e fabulação como forma de reconstrução. Os 15 trabalhos da mostra, produzidos em seda enrijecida e pigmentos naturais, acionam tanto a abstração quanto o título como formas de narrativa. Ayedun aproxima referências do candomblé, do samba, de tradições berberes e judaicas, ativando uma cosmopercepção enraizada no corpo e na experiência.

Lucas Arruda, Sem título, da série Deserto-Modelo, 2023

Lucas Arruda, “Qu’importe le paysage”
Museu d’Orsay | Paris, França
08.04 – 20.07

O paulistano é o primeiro artista brasileiro com uma individual na importante instituição. Nome central da pintura contemporânea nacional, Arruda construiu ao longo dos últimos quinze anos a série Deserto-Modelo, composta por paisagens imaginárias pintadas em pequeno formato, a partir da memória e da experiência do tempo – nunca de observação direta ou fotografias.

O título vem de um poema de João Cabral de Melo Neto, e aponta para esses espaços mentais e atmosféricos que o artista constrói em seu ateliê, à margem da paisagem tradicional. A luz é o eixo de sua pintura – “luz como movimento”, segundo o próprio artista. A exposição contrapõe cerca de 30 obras de Arruda a pinturas do acervo impressionista do Orsay para sublinhar um vínculo intuitivo: a luz como estrutura, o horizonte como tema recorrente e a paisagem como projeção interior.

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