Vista da exposição “Adriana Varejão: Don’t Forget, We Come From the Tropics” no Hispanic Society Museum & Library. Imagem: reprodução via hispanicsociety.org
A exposição “Don’t Forget: We Come From the Tropics” marca a primeira individual da artista em um museu nova-iorquino, com as pinturas tridimensionais da série “Pratos”, entre inéditas e recentes, bem como uma grande instalação comissionada na entrada da Hispanic Society. As obras resultam das pesquisas de Varejão sobre a Amazônia e propõem uma releitura crítica do cruzamento entre natureza e cultura, além de fazer referências a tradições cerâmicas de diversas partes do mundo.
O título “Don’t Forget, We Come From the Tropics” é tanto um tributo à vitalidade natural e cultural do Brasil quanto uma homenagem a uma de suas mais ilustres artistas, Maria Martins, que declarou famosamente: “Don’t forget, I come from the Tropics” (“Não esqueça: eu venho dos Trópicos”). Essa celebração das estéticas tropical e barroca exalta a riqueza do mundo latino-americano.
A mostra surgiu como um projeto especial, impulsionado pela singularidade do espaço, que, com seu estilo barroco e ausência de paredes brancas, desafiava uma montagem tradicional. Inspirada pela rica coleção de cerâmica do museu, a artista criou quatro novas obras e selecionou uma já existente de sua série de pratos que dialogassem com o acervo do instituto. A fauna da região Norte do país é um dos destaques da exposição, ideia que ganhou força após a sua participação na 1a Bienal das Amazônias, em 2023, evento no qual se reconectou com um trabalho anterior realizado para a mostra “Yanomami – o Espírito da Floresta”, em 2003.
Os cinco pratos expostos são ricos em referências, evocando em seus versos cerâmicas tradicionais de diversas culturas, como a turca Iznik, a chinesa Ming, a valenciana do século XV e cerâmicas marajoaras amazônicas pré-colombianas. A artista explora a tridimensionalidade em suas peças, buscando inspiração nas cerâmicas do francês Bernard Palissy e do português Rafael Bordalo Pinheiro, incorporando elementos esculturais que simulam seus estilos.
“Os pratos são um espaço de sobreposição de tempos e geografias, onde mitologias convivem com a história global da cerâmica”, afirma a artista.
As obras exploram a fauna e flora amazônicas, com figuras tridimensionais de animais e frutos. Ao concluir as obras, a artista percebeu que todas faziam referência a espécies cujos nomes têm origem no tupi-guarani — Guaraná, Mucura, Urutau, Boto, Aruá e Mata-mata — e escolheu essas palavras como títulos.
“Essa nova série de pratos foi concebida a partir da Bienal das Amazônias. Antes, os pratos falavam do mar, agora falam da floresta, da fauna, da delicada relação entre os seres e do que está em risco, hoje”, pontua a artista.
Outro destaque da exposição é a instalação de uma imensa sucuri em fibra de vidro que se entrelaça ao monumento em bronze de El Cid sobre o seu cavalo – situado na porta de entrada do museu – onde questiona simbolismos de poder e domínio.
“A serpente é um símbolo ambivalente, de transformação e perigo, e aqui ela ocupa um espaço de resistência, desafiando a imposição colonial representada pelo cavaleiro conquistador”, explica.
Além de apresentar sua própria obra, Adriana fez a curadoria de uma seleção de cerâmicas históricas da coleção da Hispanic Society que serão exibidas lado a lado com os pratos de sua autoria. Parte do recém-inaugurado programa de arte contemporânea do instituto, reaberto em 2024 após uma reforma com duração de dez anos, “Don’t Forget: We Come From the Tropics” tem entre os seus objetivos atrair um novo público para o museu.
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