Obra de Leonardo Lobão – Divulgação
“Os Avessos do Avesso da Liberdade” apresenta uma reflexão profunda sobre a liberdade e os seus avessos, abordando os contextos de encarceramento penal e manicomial. Com curadoria de Bernardo Mosqueira, Matheus Morani e Izabela Pucu a exposição é uma das primeiras grandes mostras no Brasil sobre o tema e traz trabalhos de 17 artistas, terapeutas, curadores e educadores, que investigam como as leis, diagnósticos e políticas públicas reforçam desigualdades e moldam o destino de pessoas encarceradas, destacando a luta por liberdade e humanidade no cenário atual.
Segundo Mosqueira, diretor artístico do Solar dos Abacaxis, a mostra materializa um desejo antigo da instituição.
“Essa é uma exposição que queríamos fazer há muitos anos, pois trata de um tema crucial no Brasil, que é tão urgente quanto silenciado”, explica. “Vivemos em um país onde a noção de direitos humanos tem sido brutalmente questionada. Essa mostra convida o público a participar e se aprofundar numa conversa difícil e urgente sobre o encarceramento e suas consequências sociais no nosso contexto de desigualdade, injustiça e insegurança.”
A exposição não se limita a denunciar a violência da opressão, mas sobretudo sessalta as inúmeras formas de resistência e expressão de liberdade presentes nos sistemas de prisão e manicômios. “Os Avessos do Avesso da Liberdade” inclui um significativo número de obras inéditas, contando com obras de jovens artistas brasileiros de diversas regiões e também com trabalhos de grandes nomes como Heitor dos Prazeres e Rosângela Rennó. A exposição apresenta um vasto material de acervos de instituições, como o Museu Penitenciario do Estado do Rio de Janeiro, e de coletivos, como Mulheres Possíveis, que colabora com mulheres em situação de cárcere.
Por meio de uma combinação de obras e arquivos, a mostra explora como a liberdade é sempre negociada e vivida nas brechas do desejo e do poder, revelando as profundas disparidades sociais de gênero, raça e classe no Brasil, um dos países com maior índice de encarceramento no mundo. A exposição não trata apenas do cárcere, mas da luta contínua pela liberdade dentro e fora dele.
“A exposição se estrutura a partir do entrelaçamento de dois eixos discursivos complementares: por um lado, buscamos revelar a seletividade e o racismo dos processos de criminalização e diagnóstico, sua relação com questões políticas e sociais mais amplas, que, no Brasil, têm origem no pós abolição. Por outro, buscamos dar a ver a liberdade enquanto pulsão de vida, como força que irrompe nas brechas dos sistemas de opressão”, resume Izabela Pucu. “A mostra aborda assuntos absolutamente factíveis – como o direito à defesa, o encarceramento indevido, a função do policiamento, a promulgação de leis no código penal e o funcionamento jurídico do estado de exceção – a fim de levantar discussões mais especulativas, como os aspectos relacionais entre justiça e liberdade, sob a ótica da democracia eurocêntrica em que vivemos. Neste sentido, a mostra aproxima o público de um posicionamento crítico frente às estruturas que aparecem como dadas, trazendo muitas relações diretas entre a notícia que se vê nos jornais e aspectos de uma reflexão mais ampla sobre o que é a liberdade”, reflete Matheus Morani.
“A exposição destaca as diversas investidas dos corpos e das subjetividades em situação de encarceramento para se expressarem, manifestarem como humanos. Ao trazer esses gestos de humanidade e autoexpressão para o espaço expositivo, buscamos aproximar o público dessas realidades, promovendo um entendimento mais empático e complexo dessa questão”, completa Bernardo Mosqueira.
O diretor artístico também destaca a necessidade de aprofundar o debate sobre os impactos do encarceramento em massa no Brasil: “Precisamos ampliar essa discussão para além dos muros das prisões e manicômios. O sistema penal e psiquiátrico historicamente criminaliza e silencia corpos dissidentes, e esta exposição quer criar um espaço para escutar e aprender com essas vozes.”
O evento marca o início de uma programação robusta que seguirá durante todo o ano de 2025, com debates, oficinas, seminários e outras exposições que continuarão a investigar as questões relacionadas à liberdade.
“Com esta abertura a gente inicia a temporada de 2025 e celebra também um ano de abertura contínua na Rua do Senado, com mais de 100 atividades públicas e educativas e um público de 5 mil visitantes por mês. Ao longo do ano teremos ainda mais duas grandes exposições, incluindo uma individual comissionada de Castiel Vitorino Brasileiro, além de um programa público ainda mais vasto e robusto, ampliando ainda mais nosso alcance. É ano em que refletimos sobre tudo que já fizemos, sobre quem somos e onde queremos estar daqui a dez anos, sempre mantendo os artistas e seus sonhos no centro de todas as iniciativas”, celebra Adriano Carneiro de Mendonça, diretor executivo do Solar dos Abacaxis.
Com uma trajetória que reúne experiências como coordenadora de educação no Museu de Arte do Rio, coordenadora de projetos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, diretora e curadora na Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, e até mesmo um Prêmio Jabuti, a curadora Izabela Pucu ingressou recentemente no time curatorial do Solar e destaca os desafios e as novas iniciativas que estão sendo implementadas na instituição.
“Em minha chegada no Solar encontrei uma instituição realmente comprometida com o fortalecimento do cenário cultural da cidade e com a sua própria reinvenção, diante das possibilidades e dos desafios de ocupação de sua nova sede. No que se refere à curadoria, acredito que o meu trabalho vem se somar ao dos demais curadores no sentido de aprofundar os processos de pesquisa, a relação com outros acervos, artistas e movimentos que não estão, necessariamente, dentro do campo mais institucionalizado da arte”, explica Izabela Pucu. “Um dos projetos mais estimulantes nesse sentido é a ampliação do programa educativo do Solar, almejando atividades regulares de formação, aulas, cursos, e seminários, fazendo do Solar, cada vez mais, um espaço de encontro e reflexão, um lugar de comunidade e crescimento coletivo”, conclui.
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