Coletivo Kókir, “Herarekã”, 2025 – Divulgação / Carmo Johnson Projects
A Galeria Carmo Johnson Projects apresenta a individual do KÓKIR, “O sensível está nas dobras do tempo”, com abertura no dia 15/03, sábado, em seu espaço localizado no bairro Alto de Pinheiros, em São Paulo.
O Kókir é formado por Sheilla Souza e Tadeu Tá No Kaingang. Kókir significa fome na língua Kaingang. O Kókir, vem realizando trabalhos em parcerias com diferentes povos indígenas no Brasil e com etnias de outras partes do mundo. As criações envolvem aspectos da visão ancestral sobre arte e cultura, refletindo sobre as relações entre os saberes dos povos originários e as formas de habitar o planeta, destacando a fome em seus diferentes sentidos, real e metafórico.
Com trabalhos recentemente produzidos, e especialmente para a mostra, a individual tem o texto curatorial de Ailton Krenak, reconhecido mundialmente por seu trabalho como escritor, filósofo, jornalista, ambientalista e ativista indígena do povo Krenak. Suas ideias sobre a atividade humana predatória contra o planeta, a humanidade não antropocêntrica, a instituição do sonho e a relevância da oralidade como forma de se reconectar com a comunidade e o planeta, desenvolvidas em livros como “A vida não é útil” e “Futuro ancestral”, foram muito influentes para o ambientalismo e o pensamento moderno em geral, uma influência que serviu de base para sua posse como o primeiro membro indígena da Academia Brasileira de Letras em 2024.
Como Krenak menciona em seu texto curatorial: “As criações presentes nessa mostra seguem o compromisso de moldar artefatos a partir dos materiais que sobram em um mundo destroçado pela ‘sociedade da mercadoria’ (…) Na primeira década do séc. XXI o coletivo já traz elementos dessa linguagem híbrida que configura carrinho de supermercado com os padrões tradicionais de clãs da etnia Kaingang, assim como objetos de utilidade no cotidiano: gaiolas, grades de ventilador, plantas de plástico e carrinhos de feira. Não apenas criar imagens ou design, mas inventar usos para materiais desgastados pela hiper exposição como o plástico, presente em muitos objetos. Um transe entre o que foi e o pode ainda ser, uma mistura/vãja, em labor de refazer sentido em um descartado mundo em crise de paradigmas, que já alcançou há tempo, o limite dos materiais. A mistura do Kókir não apenas reflete o transtorno, a fome e a escassez de matérias primas tradicionais nos territórios indígenas. Da mistura também emergem, em criações compartilhadas, muitas vozes apagadas, povos extintos e reinvenção de identidades, lutando para resistir. Juntando terra, plástico e fome ancestral em criações com povos de diferentes etnias, essa mistura expõe sincronias e contradições. Como nos alertam os antigos fazedores desta persistente matriz gráfica que informa as ancestrais marcas e pinturas corporais de cada clã da etnia Kaingang. (…)”.
O sensível está nas dobras do tempo, a exposição, exibe uma série de objetos trançados, pinturas e vídeo-performances, e especialmente durante a abertura serão servidos os comestíveis do Kókir. Os comestíveis* ressignificam o que normalmente se conhece como artesanato Kaingang, ou seja, a fruteira trançada com grafismos. A transformação acontece com a “mordida” que revela a fome. Outro fator é a serialidade dos Comestíveis, em sua organização espacial, que remete ao empilhamento dos objetos em prateleiras de supermercados. De certa maneira é uma alusão à condição do objeto industrial com o qual os Kaingang produzem as fruteiras, que revela a sua antiga função de ventilador. Nessa perspectiva a fruteira mordida vira comida nos Comestíveis, deixando que o público dê sua mordida na obra.
Durante a abertura a galeria também recebe o DJ Nelson D, artista e produtor eletrônico indígena. Nascido em Manaus, Brasil, e criado em Savona, na região da Ligúria, no norte da Itália, Nelson D traz em sua arte um profundo resgate identitário, refletido tanto em seu nome artístico quanto na sonoridade singular que desenvolve. Sua música transcende gêneros ao combinar a pulsação da eletrônica com a riqueza da cultura indígena, resultando em um estilo único que ele define como “cyberpunk indígena”—uma fusão de beats ritualísticos e ritmos vibrantes como techno, funk, carimbó e tecnobrega. Nelson D já se apresentou em alguns dos festivais mais prestigiados do cenário musical, incluindo Rock in Rio, Primavera Sound, Se Rasgum, SP Rock Mapping, Festival Sensacional, Amazônia Mapping, Festival Balaclava e Universo Paralello. Sua trajetória reafirma a potência da música como ferramenta de reinvenção cultural, conectando tradição e futurismo em performances intensas e imersivas.
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