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“O ouro e a madeira” na Quadra

15 fevereiro -10:00 até 5 abril -19:00

Iagor Peres, da série lampejos, 2023. Crédito: Filipe Berndt

O ouro e a madeira

por Ariana Nuala

Há uma força latente que emerge ao contemplar a madeira e o ouro, elementos que não apenas coexistem, mas se entrelaçam em dimensões simbólicas e materiais, desafiando as fronteiras de uma existência fragmentada.

O ouro e a madeira possuem propriedades físicas e geológicas distintas que influenciam seu comportamento tanto na terra quanto nas águas. No mar, a madeira flutua devido à sua estrutura porosa e leve, enquanto o ouro, denso e compacto, afunda. Essa dinâmica reflete uma interação natural com a gravidade e a densidade da água, marcando o contraste entre leveza e peso.

Na terra, a madeira cresce a partir do solo, completando um ciclo de vida ao retornar a ele em sua decomposição. Já o ouro também surge do solo, mas é fruto de processos geológicos profundos e lentos, moldado por movimentos tectônicos e sedimentação. Encontrado em leitos de rios ou veios rochosos, o ouro carrega consigo uma aura de permanência, contrastando com a efemeridade da madeira.

Dialogando com diferentes cosmovisões, a exemplo da filosofia tradicional chinesa, onde ambos integram o ciclo dos cinco elementos. A madeira representa a energia que ascende e cria, sustentando o metal, que condensa e protege. Esse equilíbrio sugere uma dança de continuidade e reciprocidade, desafiando a separação entre o rígido e o etéreo, e inspira práticas medicinais que pulsam vitalidade. Em outra leitura, no Candomblé de origem iorubá, essa relação ressoa na união de Oxum e Oxóssi: Oxum, senhora das águas doces e do ouro, flui como um rio que nutre e molda; Oxóssi, orixá da caça e das florestas, manifesta-se na madeira que sustenta e na flecha que avança. Juntos, reforçam a ideia de que o valor reside na conexão — entre o que nasce e o que perdura, entre o brilho do metal e a vitalidade da madeira.

Ederaldo Gentil, compositor baiano, nos diz em sua canção chamada O Ouro e a Madeira: “O ouro afunda no mar (no mar) / Madeira fica por cima (por cima) / Ostra nasce do lodo (do lodo) / Gerando pérolas finas”, este trecho que sintetiza o seu título da música que dá nome à exposição, atrai uma espécie de materialidade fônica que transcende a forma, tornando-se vibração. Fred Moten ilumina essa dimensão ao sugerir que os objetos têm voz, que sua matéria carrega uma auralidade irreprimível. Esse som — um grito ou uma reverberação — rompe hierarquias e desafia dicotomias entre espírito e matéria, criando uma tessitura que vibra entre o visível e o inaudito.

No entanto, ouro e madeira não são apenas símbolos poéticos ou cosmológicos; são também testemunhas de relações de poder e acumulação que atravessam a história. A leitura histórica destaca as repetições que associam o ouro à riqueza e ao domínio, carregando em seu brilho as marcas da violência colonial, do saqueio de territórios e da imposição de sistemas econômicos que reduzem vidas e paisagens a mercadorias. A madeira, por sua vez, evoca a retirada de florestas, a conversão de ecossistemas em bens de consumo e a construção de estruturas que sustentam arquiteturas de poder, a destruição.

Sob essa perspectiva, a exposição propõe um jogo sobre o valor, desafiando as estruturas que o definem, e que persistem em o orientar. Ouro e madeira, na história da acumulação, revelam a lógica de um mundo moldado pela concentração de riquezas, pela separação entre o que é possuído e quem é privado.

Os elementos carregam a potência de redesenhar o que consideramos valioso e como nos relacionamos com o mundo. Recusando a insistência histórica, mas inquietos com as dinâmicas que isolam e subjugam, somos desafiados a criar formas de convivência e reciprocidade, assim ouvir o que a madeira e o ouro têm a dizer. As obras neste sentido não devem estritamente se relacionar com esses elementos, mas conduzem a partir de outras materialidades as divergências entre valor para um mundo – colonial – que se auto degrada e a insistentes caminhadas até o sol que fogem desta destruição.

artistas: Advânio Lessa, biarritzzz, Carla Santana, Caroline Ricca Lee, Gilson Plano, Iagor Peres, Jonas Van, Lu Ferreira, Paula Trojany e Wisrah C. V. da R. Celestino

curadoria: Ariana Nuala

Detalhes

Início:
15 fevereiro -10:00
Final:
5 abril -19:00
Categoria de Evento:
Website:
https://quadra.me/

Local

Galeria Quadra
Rua Barão de Tatuí, 521
São Paulo, SP Brasil
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