Rubem Valentim, “Pintura 2”, 1964. Imagem: Divulgação
O ICA Miami apresenta a primeira exposição em um museu dos Estados Unidos dedicada ao pintor afro-brasileiro Rubem Valentim (nascido em 1922, Salvador, Brasil; falecido em 1991, São Paulo). Uma voz singular na pintura modernista e na abstração geométrica, Valentim explorou as preocupações formais do meio e suas ressonâncias sociais através de culturas e práticas espirituais. Esta exposição concentra-se nas obras produzidas por Valentim na década de 1960 e na transformação de seu trabalho e pensamento durante esse período.
Valentim dividiu a década entre o Brasil, que vivia um momento entre a rápida industrialização e a ditadura militar, e a Europa, onde teve seu primeiro contato direto com a arte africana e as políticas do Terceiro Mundo que influenciariam sua prática artística. Após se mudar de Salvador para o Rio de Janeiro no final da década anterior, Valentim produziu, nos anos 1960, pinturas marcadas pela forma racional e composição simétrica. Como as obras mais progressistas produzidas no Brasil da época, incluindo as pinturas de Waldemar Cordeiro e os experimentos fotográficos de Geraldo de Barros, suas pinturas desse período caracterizam-se pela clareza composicional e fácil comunicabilidade. Valentim buscava oferecer ferramentas para que uma população em rápida urbanização pudesse funcionar melhor com os novos sistemas e velocidades de comunicação, tecnologias e formas de vida nas cidades em modernização, ainda que segregadas e economicamente desiguais.
Entre 1963 e 1966, Valentim viveu na Europa, estabelecendo-se principalmente em Roma, onde realizou sua primeira exposição fora do Brasil. Durante esse período, visitou outras cidades e, em Londres, viu esculturas africanas pela primeira vez. O impacto desse encontro está registrado em suas pinturas desse período: obras que mantêm as linhas precisas e os espaços pictóricos rasos da abstração geométrica, mas nas quais formas genéricas se transformam em figuras que aludem a totens, objetos de culto, fragmentos de arquitetura de templos e signos como machados e flechas associados a divindades afro-brasileiras. Sua estadia no exterior culminou com sua participação no Primeiro Festival Mundial de Artes Negras, realizado em Dakar, Senegal, em 1966.
Em 1967, ao retornar para viver em Brasília, a nova capital moderna do país, Valentim iniciou a série radical intitulada “Emblemas”. Produzidas em baixo-relevo raso, essas obras invadem o espaço físico do espectador, rejeitando qualquer possibilidade de ilusão oferecida pelo plano pictórico. Além disso, essas obras reduzem ainda mais a paleta de cores de Valentim, frequentemente empregando apenas uma cor sobre um fundo branco impecável. Embora ainda utilizasse formas geométricas abstratas, Valentim buscava aprofundar sua conexão com a arte das práticas religiosas afro-brasileiras, criando pinturas como uma tecnologia para interpretar significados cosmológicos. Nesse processo, suas pinturas tornaram-se crescentemente ideográficas, fundindo signo e significado e questionando a própria representação.
As obras de Rubem Valentim estão presentes em coleções como as do Museum of Modern Art, Nova York; Museum of Fine Arts, Boston; Pinacoteca do Estado de São Paulo; Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; Museu de Arte Moderna da Bahia; Museu de Arte de Brasília; Museu de Arte de São Paulo (MASP); Museu Afro Brasil, São Paulo; e o Museum of Fine Arts, Houston. Seu trabalho foi exibido na Bienal de Veneza e na Bienal de São Paulo. Em 2019, foi tema de uma importante retrospectiva, Rubem Valentim: Construções Afro-Atlânticas, no MASP.
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