Os olhos ardem, a garganta resseca, as narinas queimam e os pulmões sufocam. É a vida humana em risco. A trajetória pensada antes como necessária para um mundo melhor agora é desafiada por queimadas, enchentes, altas e baixas temperaturas, secura do ar. Ao promover a exposição “Onde há fumaça: arte e emergência climática”, o Museu do Ipiranga questiona a ideia de progresso ainda predominante, que gera a situação atual de emergência climática. O público está convidado a fazer parte dessa reflexão a partir de 5 de novembro, data de abertura da nova mostra temporária, que terá entrada gratuita.
A curadoria do Micrópolis, grupo formado pelos arquitetos e pesquisadores Felipe Carnevalli, Marcela Rosenburg e Vítor Lagoeiro, coloca o acervo histórico ao lado de obras contemporâneas para dar visibilidade ao processo de degradação ambiental e social ao longo do desenvolvimento urbano do Brasil. “Muitas imagens que encontramos no acervo trazem, de alguma forma, indícios da emergência climática que enfrentamos hoje. Diversas dessas obras históricas estão fortemente ancoradas no tripé da monocultura, latifúndio e escravidão. E são essas representações coloniais que inauguram a ideia de Brasil”, afirma o curador Vítor Lagoeiro.
É a primeira vez desde a reabertura que uma mostra no Museu do Ipiranga tem uma curadoria inteiramente externa. Esse é mais um passo da instituição para acolher a participação da sociedade e contar narrativas de grupos não-hegemônicos. “Nos preocupamos em usar a memória e o patrimônio histórico como ferramentas de diálogo com o presente. Por isso, conectar nosso acervo com questões contemporâneas, como a emergência climática, é pauta central para a instituição. Assim, cumprimos nosso papel de produzir conhecimento histórico e de estimular discussões que impactam diretamente a sociedade e o futuro do planeta”, diz a professora doutora Aline Montenegro Magalhães, chefe da Divisão de Acervo e Curadoria.
Pinturas e fotografias de mestres, como Benedito Calixto e Henrique Manzo, dialogam com trabalhos dos artistas Alice Lara, André Vargas, Bruno Novelli, davi de jesus do nascimento, Anderson Kary Bayá, Jaime Lauriano, Luana Vitra, Mabe Bethônico, Roberta Carvalho, (Se)cura humana, Uýra Sodoma e Xadalu Tupã Jekupé. A justaposição permite analisar como a colonização do território e a construção da nação estão pautadas na ideia de civilização versus barbárie, da cultura possível versus natureza impossível.
A iniciativa com artistas de diferentes origens, entre elas quilombolas e indígenas, traz outras possibilidades de interpretação da história e dos sentidos de transformação para o país. É um convite para pensar caminhos para combater o caos climático que gera desigualdade social, fome, sede e morte.
“As obras contemporâneas de diferentes maneiras perpassam o universo do agronegócio, das florestas devastadas, da secura dos rios, do racismo ambiental e da exploração dos corpos, mas também trazem a resistência do que resta, a potência do que se imagina e a esperança do que se constrói coletivamente”, afirma a curadora Marcela Rosenburg.
A exposição ainda inclui trabalhos dos pesquisadores Ed Hawkins, cientista britânico do clima, criador das espirais climáticas e riscas de aquecimento, e Eduardo Góes Neves, ambientalista brasileiro atuante na Amazônia; e dos ativistas, projetos e movimentos sociais Assentamento Terra Vista, Márcio Verá Mirim, Redes da Maré e Hãmhi Terra Viva.
“Entendemos o Museu como um lugar de produção de conhecimento que, para além da arte, também está no ativismo, na vida cotidiana e nas questões ambientais. Vemos o Museu como espaço de diálogo entre campos do saber, por isso o desejo de trazer, junto das obras dos artistas, trabalhos que não estão no contexto artístico, mas que subvertem a própria ideia de arte quando colocados nesse lugar”, comenta o curador Felipe Carnevalli.
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