A Pinakotheke Cultural, no Rio de Janeiro, abrirá para o público no dia 21 de outubro de 2024 a exposição Flavio-Shiró, 96 anos, presente, que celebra a trajetória do grande artista nipo-brasileiro Flavio-Shiró, nascido no Japão em 1928, e que veio aos quatro anos de idade com a família para o Pará. Com curadoria de Max Perlingeiro, a exposição apresenta um total de aproximadamente 70 obras, desde as pinturas seminais do artista, ainda nos anos 1940, passando pelos anos 1950 e 1960, quando Flavio-Shiró se torna um mestre, fazendo “emergir evocações e reminiscências de ambiências e seres”, como destaca Paulo Miyada, diretor artístico do Instituto Tomie Ohtake, no texto crítico que acompanha a exposição.
“Ele buscou maneiras de enfatizar as possibilidades evocativas do gesto que manipula, intempestivo, a viscosidade da tinta a óleo”, afirma Miyada. “Quanto à linguagem, essa busca refeita a cada vez tornou-se uma das molas propulsoras de sua produção ao longo de mais de seis décadas”, assinala. “Indo um pouco além do grande arco de embate com a pintura em um mundo de violência”, observa, “a presente exposição nos oferece a chance de encontrar o artista em uma espécie de movimento de retorno ao lar. Não é um retorno literal, pois seu endereço segue em Paris e no Rio de Janeiro, mas, sim, seu regresso ao serendipitoso encontro com a intensa beleza prosaica do viver fazendo arte”.
Flavio-Shiró trabalha continuamente, e no salão central da Pinakotheke Cultural estarão 45 obras em papel, em aquarela ou nanquim, feitas em 2023 e 2024. Seu imenso universo intelectual, adquirido por anos de interesse pela literatura, cinema e música, era ativado pela percepção de algo ao seu redor, às vezes banal, como uma cena de TV, que se transformava em impulso de trabalho. Assim são as aquarelas Sem Título, com cenas de carnaval, uma tourada, ou ainda em forma circular. Destacam-se também as quatro aquarelas que fez em caixas de bombons, entre elas Rear Window – Alfred Hitchcock (2022-2023), e os 14 desenhos em nanquim, de 2023, nos quais o artista parece refletir sobre seu tempo e sua existência mais íntima.
A exposição Flavio-Shiró, 96 anos, presente traz ainda a pintura inédita Casulo (2019-2020), óleo sobre tela, 67 x 192 cm, e, pela primeira vez em suas exposições, serão mostradas fotografias feitas por ele em vários períodos de sua vida.
Na última sala da exposição, será projetado o filme Origens, Sonhos, Pesadelos, O ateliê e Pintando (2018), com roteiro e direção de Margaux Fitoussi e Adam Tanaka, neto do artista. A exposição será acompanhada de um catálogo com textos de Paulo Miyada e Max Perlingeiro, com 80 páginas e formato de 20 x 25 cm. O público verá fotografias feitas pelo artista e também cadernos com aquarelas que ele fez entre 2020 e 2022, durante a pandemia de Covid-19.
Max Perlingeiro relata que, em 2018, ouviu de Flavio-Shiró, então aos 90 anos: “Sinto as raízes dos três continentes se entrelaçando. Nas profundezas do meu ser, me conscientizo de que sou um cidadão do mundo”. Hoje, aos 96 anos, o curador perguntou a ele: “E agora?” E Flavio-Shiró respondeu: “Os meus desenhos saíram das linhas das minhas mãos”.
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