Alex Červený (1963, São Paulo, SP, Brasil) inaugura sua nova individual, Orbis sensualium pictus, na Millan, com curadoria de Ivo Mesquita. Apresentando um conjunto de mais de vinte pinturas recentes, além de uma dupla de aquarelas do acervo do artista, a exposição é nutrida por uma miríade de narrativas, de clássicas a contemporâneas, que trazem reflexões sobre a condição humana na Terra, a relação com outros seres e os impasses ambientais. A abertura acontece no sábado, 21 de setembro, das 11h às 15h.
A prática de Červený é marcada pelo emprego de múltiplas técnicas e suportes, mas sempre teve seu alicerce no desenho e na obra sobre papel. Esse aspecto é notável em sua recente exposição panorâmica na Estação Pinacoteca, em São Paulo, intitulada Mirabilia, que abrangia três décadas de sua produção. Orbis sensualium pictus, porém, é a primeira de sua carreira dedicada quase exclusivamente à pintura sobre tela. Nesta, que é também sua primeira individual na Millan, ele reúne um conjunto de mais de vinte pinturas inéditas, incluindo pequenos e médios formatos, além de um trio de grandes dimensões, com uma tela que atinge 4 metros de largura.
A diversidade narrativa é um traço marcante das obras do artista. Suas pinturas reúnem referências a diferentes universos — da literatura, da música e de suas próprias memórias — em cenas repletas de personagens e textos minuciosamente caligrafados, que, ao serem exibidas em conjunto, resultam elas mesmas em novas narrativas. Não à toa, o título da mostra, Orbis sensualium pictus, é retirado de um livro didático do século XVII, frequentemente traduzido do latim como “O mundo sensível em imagens”.
“Alex Červený é um grande contador de histórias. Ao longo da carreira, sua prática artística vem constituindo uma obra feita de mapas, paisagens, retratos, relatos de viagens, permeados de mitos, heróis, trágicos, sátiros, aventureiros, deuses, ninfas, santos e rainhas”, descreve o curador Ivo Mesquita no texto da exposição. “A partir de sua experiência pessoal e de seu tempo, a figuração narrativa de suas criações nos conduz, com pinturas, desenhos e gravuras, por viagens imaginárias na superfície do papel ou da tela, a coleta paciente, amorosa, por extensos repertórios.”
Atingir essa riqueza de detalhes, que preenche as pinturas com acontecimentos vibrantes, no entanto, demanda tempo. Born This Way (2019–2024), por exemplo, levou alguns anos para ser concluída. De fato, para Červený, o processo é tão importante quanto o produto final e, naturalmente, ele volta a trabalhar em certas obras com intervalos de meses ou mesmo de anos. Outra tela que atesta o preciso e zeloso trabalho do artista é As Lusíadas (2024). Sua maior pintura até o momento (medindo 270 x 400 cm), levou mais de um ano para ser concluída e é “um mergulho no universo feminino através do glossário das personagens citadas por Camões nos Lusíadas”, conforme explica o artista. A obra dá continuidade a uma série de telas de grande formato que o artista tem realizado desde 2018, inicialmente comissionadas pela Fondation Cartier pour l’art contemporain para exposições em Paris, Xangai e Milão, e mais recentemente, pela 15ª Bienal de Gwangju, inaugurada em setembro na Coreia do Sul.
Outro ponto de virada na trajetória do artista foi notado pelo curador durante os preparativos para a exposição na Millan. “Os trabalhos reunidos na presente exposição apontam para um outro momento na produção de Červený. Se em obras anteriores experimentávamos um tempo elíptico, entre presente e passado, com as imagens e referências que empregavam, o tempo agora parece suspenso”, escreve Mesquita. “Com uma atmosfera rarefeita, onírica, estes trabalhos trazem um olhar mais introspectivo, reflexivo do artista sobre sua condição humana, seu momento e seu lugar.”
Esse sentimento aparece de forma mais evidente na pintura Náufrago (2023-2024). A imagem de um homem isolado em uma ilha sugere leituras que vão desde o foro íntimo até as mudanças causadas pela catástrofe climática. “Não se trata apenas da solidão. É também sobre uma limitação territorial, sobre o aperto que começamos a experimentar no planeta em que vivemos”, afirma o artista.
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