O que vemos quando ouvimos “Negros na Piscina?”

Em novo livro, a curadora Diane Lima nos convida a repensarmos as práticas curatoriais vigentes e o legado em construção das artes contemporâneas

por Emilly Chaves
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Negros na Piscina – arte contemporânea, curadoria e educação, organizado pela curadora, escritora, pesquisadora e intelectual, Diane Lima, foi lançado pela Editora Fósforo em abril de 2024. A obra apresenta vinte e seis textos, com trinta e sete contribuições de artistas, curadores e pesquisadores do campo das artes.

Com um título que instiga à leitura, inspirado na fotografia do artista visual Paulo Nazareth a publicação, desde seu título, oferece vestígios para reflexões que fundamentam os múltiplos significados ou duplos sentidos de que, quase sempre, são feitas as estéticas negras. 

Paulo Nazareth, “Sem título”, 2014. Série Cadernos Áfricas (2013 – em processo)

Em seu texto curatorial, Diane Lima dialoga com as pessoas leitoras ao contar sobre as suas inquietações e mergulhos para a escolha do título, como também ao descrever os seus percursos de investigação, baseados em experiências empíricas e teóricas, que deixam rastros didáticos de possíveis caminhos curatoriais e funcionam como tecnologias de sobrevivência.

Com a ausência da divisão de temas, seções e categorias, Negros na Piscina – arte contemporânea, curadoria e educação é uma oferenda epistemológica para artistas, curadores, pesquisadores, educadores e curiosos. Segundo Diane Lima, a ausência de divisões de temas no livro, apresentando os textos já com seus títulos e o nome das pessoas autoras, é para romper “aquilo que se espera, justamente pela multiplicidade de práticas curatoriais e de formas de narrar“. 

A obra, desde o seu lançamento, vem se destacando por oferecer reflexões textuais que abordam temas complexos e profundos acerca dos debates raciais na arte contemporânea nessa última década. O convite à leitura ou conversa, como nos ensina a organizadora, chega através de uma proposta não linear e muito menos cartesiana. Para Diane, as performances de leituras são iniciadas com a escolha dos títulos a serem lidos e isso faz o seu próprio ritmo e fluxo de leitura, possibilitando que cada escrito, conversa ou história se revele por meio das escolhas feitas”.

As ofertas imagéticas que compõem Negros na Piscina: arte contemporânea, curadoria e educação registros de instalações, performances, conversas, exposições e ativações artísticas –, dialogam diretamente com a trajetória de pesquisa e realização de Diane Lima, proporcionando uma maior compreensão dos contextos históricos que culminaram na realização do livro.

Um dos grandes desafios na leitura desta obra é repensar, ao longo das travessias pelos textos, a presença e ausência-presença da palavra piscina”, pois, mesmo quando não há a sua escrita, as interpretações, relatos e significado(s) reverberam e amplificam o repertório no imaginário das pessoas leitoras, explorando a amplitude que uma figura de linguagem pode carregar.

Considerando o seu sentido exato e/ou figurado, o que de fato vemos quando ouvimos a expressão negros na piscina? Utilizado na publicação como recurso expressivo, um chamamento, esse dispositivo imagético-sonoro carrega consigo inúmeras interpretações, mas é na recusa das impossibilidades desses corpos ocuparem os lugares negados, “as piscinas”, que nascem as inquietações e suas rotas de fugas.

Paulo Nazareth, “Nós Podemos Nadar”, 2023

O livro, efetivamente, é fonte de pesquisa e reúne vozes para combater as políticas de esquecimento no que se refere às ações e participações de pessoas negras e indígenas, e suas estéticas, no sistema das artes. As contribuições “se complementam, se chocam e se sobrepõem a cada nova leitura”. Por exemplo, no texto de autoria de Cíntia Guedes, Para caboclas y sereias que insistem em navegar, a partir das suas próprias rotas fugas, a autora nos convida a refletir sobre as inscrições raciais e de gênero nas instituições e como os repositórios raciais de memórias atuam para uma política de esquecimento. Amanda Carneiro, em seu texto Violentamente pacífica: arte, decolonialidade e inserção institucional, discute a atuação dos espaços museais e suas ações. Já Marcelo Campos, em seu texto Curadoria e reflexividade: desafios e perspectivas, oferece generosamente caminhos da sua trajetória pessoal e o entrelaça com suas práticas curatoriais. Juntas, todas as contribuições presentes na publicação ampliam o entendimento no que se refere às práticas curatoriais vigentes e o legado em construção das artes contemporâneas.

Segundo Diane Lima, a performance do livro é o chamado à ação como fenômeno da sua própria existência e as participações do qual é composto, considerando o livro um espaço institucionalizado de produção de saberes, um espaço de poder, onde as narrativas são construídas e disputadas por meio das linguagens escrita e/ou imagética.

Negros na piscina é o resultado da interlocução das pessoas escritoras que o fazem tornar-se livro e uma convocação à ação, mas pode ser lido como “uma brincadeira. A performance de uma performance. Ou por sua beleza terrível”. 

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