O silêncio é o personagem mais presente nas fotografias que Roberto Frankenberg apresenta no Museu Judaico de São Paulo a partir de 16 de julho. Produzidas entre 2012 e 2014, a série Rastros, que dá título à exposição, é resultado de uma sequência de viagens que o artista fez para campos de concentração e arredores, resgatando traços do passado.
Seus avós, assim como uma grande parte da sua família, foram assassinados pelo regime nazista nos campos de extermínio na Polônia e nas florestas dos países bálticos. O pai, Louis Frankenberg, é um dos poucos sobreviventes e foi quem levou o filho para visitar os locais nos quais ele foi deportado durante a Segunda Guerra Mundial.
Segundo a curadora e diretora do Acervo e Memória do MUJ, Roberta Alexandr Sundfeld, o conjunto das fotografias “é um memorial vivo, construído pela arte que captura o indizível, e incita ao diálogo sobre a importância de nunca esquecer a história vivida”.
A partir da observação da natureza nas áreas onde antes funcionavam os complexos, o artista fotografa pequenos fragmentos do que restou daquela época – um arame farpado, um trilho de trem – e pequenos vestígios que remetem às histórias e às vozes que fazem parte daquela terra.
“Tentei imaginar como poderia retratar meus avós, que nunca conheci. Encontrei-me nesta terra pisada por eles e por muitos outros. Andei pelos caminhos que eles poderiam ter percorrido, vi paisagens que eles poderiam ter visto. Usei a natureza como uma espécie de antena para captar o sujeito da fotografia que não está lá. A natureza é um veículo para chegar ao sujeito”, afirma Frankenberg.
Ao primeiro olhar, as obras, que fazem parte do acervo do MUJ, mostram a beleza das paisagens contemporâneas, as flores silvestres e ervas daninhas, com a natureza avançando sobre as estruturas abandonadas e arames farpados. As evidências visuais indiretas nas imagens, que remetem à ausência e à perda, são confirmadas pela objetividade das legendas que informam as localizações e os usos anteriores daquele espaço: os campos de Majdanek e Treblinka, na Polônia, as florestas de Bikernieki e Rumbula, na Letônia, a floresta de Ponary e o Nono Forte, na Lituânia.
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