Quem são os artistas brasileiros anunciados para a 35ª Bienal de São Paulo?

Conheça os artistas anunciados, até agora, para compôr a exposição sob a temática “Coreografias do Impossível”

por Giovana Nacca
7 minuto(s)

Desde o anúncio a respeito da lista parcial de artistas que estarão presentes na 35ª Bienal de São Paulo deste ano, estamos todos intrigados para saber mais sobre quem são estes. A curadoria assertiva de diversos nomes ainda não conhecidos pelo circuito aponta para o papel de uma Bienal que deve sempre direcionar nosso olhar para o futuro da arte. Por isso, trouxemos aqui algumas pinceladas de conteúdo para você conhecer melhor quem são os onze nomes brasileiros anunciados até agora. Mas é importante reforçar que esta lista não representa uma totalidade sobre os artistas que estarão presentes na exposição, outros nomes brasileiros e internacionais ainda serão anunciados no dia 22 de junho. 

Aline Motta

Aline Motta, Se o mar tivesse varandas, 2017

A artista carioca, que hoje em dia vive em São Paulo, é conhecida por seus trabalhos que propõem narrativas poéticas baseadas em fotografia, vídeo e instalação. Estas costuram caminhos entre a ficção e sua própria biografia para reconfigurar memórias coletivas, em especial as afro-atlânticas, que perpassam violências estruturais e apagamentos históricos.

Motta tem tido destaque em cenário nacional e internacional, fazendo parte de importantes coletivas e individuais dos grandes museus como MAR (Museu de Arte do Rio), MASP (Museu de arte de São Paulo Assis Chateaubriand) e Instituto Tomie Ohtake. 

Ana Pi e Taata Kwa Nkisi Mutá Imê

Ana Pi
Ana Pi, “The Divine Cypher”, 2021 – Foto: Martin Argyrolo

Ana Pi nasceu em Belo Horizonte, em 1986, mas foi nas ruas de Salvador que ela aprendeu coreografias ao longo de sua vida. Hoje Pi é coreógrafa, bailarina, pesquisadora em dança urbana e educadora, que parte de investigações sobre a cultura afrodiaspórica para abordar ideias de trânsito, deslocamento, pertencimento e memória em seus trabalhos. 

Dentro da Casa dos Olhos do Tempo Que Fala da Nação Angolão Paketan Malembá, um Terreiro de Candomblé Bantu dedicado a divindades chamadas Nkisis e Caboclos, onde Pi é Filha de Santo, ela recebeu a bênção de Jorge Barreto dos Santos – Pai de Santo, nascido em Salvador em 1956 –, também conhecido como Taata kwa nkisi Mutá Imê. A partir disso, Pi pôde trabalhar em um ensaio artístico que lhe atribuiu uma bolsa pelo programa Artist Research Fellowship do MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) em 2019.

Ayrson Heráclito e Tiganá Santana

Ayrson Heráclito na performance de Bori no Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro, RJ, 2021. Divulgação

O artista Ayrson Heráclito já é amplamente conhecido por seus trabalhos tanto enquanto artista propositor, quanto como professor universitário, historiador da arte, curador e ogã do Candomblé de matriz Jeje-Mahi. Em seus trabalhos, ele recupera a força de mitologias africanas que aportaram no Brasil com a chegada dos milhões de homens e mulheres escravizados. 

Na 35ª edição da Bienal de São Paulo, Heráclito será apresentado como dupla do músico, compositor e poeta soteropolitano Tiganá Santana. Santana, além de ter sido o primeiro compositor brasileiro, na história fonográfica do país, a apresentar um álbum, como compositor, com a presença de canções em línguas africanas, também já foi convidado, pelos curadores da 20ª Bienal de São Paulo, para apresentar uma performance criativa, que se chamou “Linguagens Espraiadas: afropoética presente”.

Castiel Vitorino Brasileiro

Comigo ninguém pode, 2018, Castiel

Nascida em 1996, no Espírito Santo, Castiel é artista, escritora, psicóloga clínica e pertence à linhagem da família AfroBantu. Portanto, em suas produções ela combina as práticas terapêuticas com seus estudos sobre a cosmovisão de sua ascendência. Suas fotografias, vídeos, danças, pinturas e instalações – também chamadas de ‘templos’ pela artista – compreendem a cura como um estado provisório de alinhamento entre as inúmeras vidas que simultaneamente compõem uma pessoa. Podemos destacar como exemplo a obra Eclipse, que consiste em um ambiente criado para instigar processos de cura e autoconhecimento, que foi exposto no Hessel Museum of Art, em Nova York, em 2021.

Denilson Baniwa

Retrato de Denilson Baniwa

Dando sequência aos nomes já bastante estabelecidos no circuito, Denilson Baniwa é reconhecido por seu trabalho enquanto artista, curador e articulador de cultura digital. Nascido em uma comunidade do povo Baniwa, no município de Barcelos, no Amazonas, e radicado em Niterói, no Rio de Janeiro, ele vem, há tempos, abrindo e construindo caminhos para o protagonismo indígena. 

Atualmente, o artista ocupa o Octógono da Pinacoteca de São Paulo com um experimento artístico-pedagógico de aulas de línguas e culturas indígenas, arte e música, chamado Escola Panapaná.

Frente 3 de Fevereiro

Ação conduzida pelo coletivo Frente 3 de fevereiro (crédito: divulgação)

O coletivo paulista se debruça, desde 2004, sobre pesquisas e ações diretas acerca do racismo na sociedade brasileira, atuando no setor artístico visual, cênico, e poético, além do educativo. O nome do grupo refere-se a data em que o jovem dentista negro Flávio Ferreira Sant’Ana foi morto por seis policiais militares na zona norte da cidade de São Paulo, por ter sido confundido com um ladrão. No episódio referido, os policiais também forjaram a cena do crime tentando encobrir o erro, o que foi o estopim para o grupo iniciar sua atuação contra o racismo policial na cidade de São Paulo.

Gabriel Gentil Tukano

Pinturas de Daiara Tukano (ao fundo) e desenhos do Pajé Gabriel Gentil Tukano (na vitrine, à frente) na exposição “Véxoa: Nós sabemos”. Foto: Levi-Fanan

O Pajé Gabriel Gentil viveu entre 1953 e 2006, no Amazonas, e dedicou grande parte de sua vida especialmente à escrita e a publicações sobre cosmovisão, mitologia, papéis sociais e dinâmica de vida social do povo Tukano. Gentil foi reconhecido como uma das principais lideranças políticas dos indígenas do Amazonas pela FIOCRUZ, o que constituiu uma medida inédita no país.Recentemente, em 2021, ele também teve destaque no circuito artístico por ter seus desenhos expostos na coletiva “Véxoa: Nós Sabemos” na Pinacoteca de São Paulo.

Inaicyra Falcão

Inaicyra Falcão, “Ayán – Simbolo do Fogo”. Foto: Roberto Berton

Cantora lírica e pesquisadora das tradições Yorubá, Inaicyra Falcão é uma referência no estudo da dança e artes cênicas brasileiras. Nascida em Salvador, Neta de Mãe Senhora, respeitada liderança do candomblé no Brasil, e uma das filhas do artista Mestre Didi, Falcão estudou em universidades e instituições do Brasil, Estados Unidos, França, Inglaterra e Nigéria. Seu trabalho cravou uma chave essencial na luta contra o racismo estrutural ao levar a cultura afro-brasileira para espaços de tradição eurocêntrica, como academias e música erudita, sempre atenta a abrir caminhos para novas gerações. 

Luiz de Abreu

Luiz de Abreu
Luiz de Abreu, “Samba do Crioulo Doido”, 2013. Foto: Renata D’Almeida

Natural de Araguari, Minas Gerais, Luiz de Abreu é coreógrafo-intérprete. Sua produção, que pauta criticamente a exploração de estereótipos ligados ao corpo negro, já foi exibida tanto nacionalmente, quanto na França, Alemanha, Portugal, Croácia, Cuba e Espanha. E apesar de não ser tão conhecido pelo circuito das artes visuais, o bailarino criou a peça “O Samba do Crioulo Doido”, que hoje compõe o acervo de videodança do Centre Pompidou, em Paris. Por meio desta obra, valendo-se da ironia e do deboche, Luiz de Abreu busca demonstrar como o negro é – ao contrário do que diz a canção de Stanislaw Ponte Preta – capaz de dar forma a si próprio e à História na qual se insere.

Rosana Paulino

Retrato de Rosana Paulino. Foto: TPM / Isabella Matheus

Nascida em 1967, a paulistana Rosana Paulino atua há mais de três décadas como importante agente das artes, sendo artista visual, curadora e professora. Conhecida especialmente por seus trabalhos em bordado, a artista investiga questões de gênero, identidade e representação negra. Ano passado, Paulino foi prestigiada ao participar da exposição principal da 59ª Bienal de Veneza, onde exibiu 25 trabalhos, de três séries: Jatobás, Senhora das plantas e Tecelãs.

Tadáskía

Tadáskía
Retrato de Tadáskía. Foto: Lydia Metral

Nascida na capital fluminense, em 1993, Tadáskía cria paisagens místicas sobre o percurso entre o tátil e o etéreo, baseada nas linguagens do desenho, fotografia, instalação e têxtil. Apesar de ter adentrado o mercado há pouco tempo, a artista tem se destacado na agenda cultural: somente no ano passado, além de realizar sua primeira individual, ela integrou oito exposições coletivas. Suas obras também já integram grandes coleções como a de Inhotim, Museu de Arte do Rio, Institute for Studies on Latin American Art, Instituto Cultural Çarê e outras.

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