Tendências e movimentos do mercado de arte em 2022

Um breve panorama do ano na economia das visuais por highlights no Brasil e exterior

por Luciana Pareja
5 minuto(s)
“Les Poseuses, Ensemble (petite version)”, de Georges Seurat, arrematada por US$ 149,2 milhões no leilão recordista da coleção de Paul Allen pela Christie’s

O ano 2022 das artes visuais foi diferente no mundo e no Brasil. No resto do globo, este foi o ano da consolidação da retomada de vendas pós-pandemia. A Covid fez com que o mercado mundial de arte amargasse sua pior recessão em 10 anos em 2020. Em 2021, foi a vez da volta por cima no cenário internacional, com um aumento das vendas em 29% em relação ao ano anterior, atingindo o montante de US$ 65,1 bilhões, segundo dados do relatório UBS+Basel 2022. 

A mesma pesquisa sinalizou uma participação crescente dos megacolecionadores no aquecimento do mercado, investindo em obras acima de US$ 1 milhão, mas isso não surpreende. De acordo com o Art Collector Insights, publicado pela plataforma Artsy em setembro último, quanto mais dinheiro tem o colecionador, menos o balanço da economia impacta em seu consumo habitual de arte: 51% dos colecionadores entrevistados disse não mudar seus hábitos de compra de visuais mesmo com a alta da inflação. Dessa turma, 74% dos colecionadores com rendimento anual acima de US$ 500 mil não ligam para as oscilações da inflação. 

Alguns números das feiras e leilões ao redor do mundo indicam de que as coisas neste ano foram muito bem, obrigada. O caso mais chamativo foi o valor recorde obtido pela coleção de 155 obras de Paul Allen, o cofundador da Microsoft morto em 2018, que amealhou US$ 1,62 bilhão em seus dois dias e se tornou a coleção a arrecadar o maior valor em leilão – dinheiro que será doado à filantropia, segundo documento assinado por Allen em 2009.

Algumas obras sozinhas ultrapassaram os US$ 100 milhões: Les Poseuses, Ensemble (petite version), de Georges Seurat, arrematada por US$ 149,2 milhões; Montagne Sainte-Victoire, de Cézanne, por US$ 137,7 milhões; Verger avec cyprès, de Van Gogh, por US$ 117,1 milhões; Maternité II, de Gauguin, por US$ 105,7 milhões; e Birch Forest, de Klimt, por US$ 104,5 milhões. Além disso, mais de 30 obras jogaram para cima o valor que se estimava para sua venda.

Claro que esse resultado não representa a regra em leilões. Apenas coleções cuidadosamente selecionadas ao longo de anos por compradores com poder aquisitivo estratosférico chegam a tais números. Mas o fato é que a coleção de Allen ajudou a bombar os resultados do mercado internacional de leilões em 2022. 

Outro setor procurado pelos compradores de artes, as feiras, viu surgir a nova e celebrada Paris + par Art Basel, entre rumores de sucesso que poderiam ser explicados pelo fato de que o mercado de arte na França vem aumentando ano a ano sua participação na fatia mundial, representando no meio de 2022 a fatia de 7%, movimentando US$ 4,7 bilhões – é o quarto mercado de arte do mundo, atrás apenas dos EUA, China e Reino Unido. 

Mesmo com a preferência dos colecionadores em adquirir arte presencialmente, em leilões e feiras, ainda assim o meio digital viu sua representação subir entre as modalidades de compra de obras: 74% dos colecionadores também usam a internet como canal de aquisição e, entre os jovens, essa modalidade tem 90% da preferência, segundo o Art Collector Insights da Artsy (uma das grandes vendedoras online de arte). Também segundo a pesquisa, 56% dos colecionadores gastam mais de metade do seu orçamento para arte em compras pela internet.

Apesar dessa adesão ao meio digital como canal de compra, nem toda tecnologia é ouro. Se no começo do ano os tão falados NFTs eram citados como a principal tendência das artes, mas com a queda do valor das criptomoedas a partir de maio, muitos colecionadores ficaram com medo de investir numa peça de valorização tão volátil. As mídias favoritas dos compradores de arte ainda são as boas e velhas pintura, escultura e papel, representando 49% das vendas no mercado internacional (UBS+Basel 2022).

Ainda entre as feiras, alguns números da Miami Art Basel apontam para uma edição mais modesta, embalada pela atual recessão nos EUA e na contramão do mercado internacional. Segundo a art advisor Sophie Su, embora a feira tenha apresentado 282 galerias na maior edição de sua história, poucas obras foram vendidas por mais de US$ 1 milhão, numa lista encabeçada por The Ruffians (1982), de Jean-Michel Basquiat, vendido por US$ 20 milhões pela Van de Weghe.

No Brasil

Dentre as galerias da Miami Art Basel, algumas brasileiras tiveram um bom desempenho – e alavancaram internacionalmente artistas do seu cast. Ainda de acordo com o balanço divulgado por Sophie Su sobre a feira, a Nara Roesler vendeu obras de Raul Mourão, Abraham Palatnik, Elian Almeida, Daniel Senise, André Griffo, Manoela Medeiros, e Bruno Dunley. Já a Galeria Raquel Arnaud vendeu trabalhos de Carlos Cruz Diez, Iole de Freitas e Celia Euvaldo. 

Mas as atividades da galeria fora do Brasil vêm em escalada. “Em Nova York, a galeria continua crescendo, indo muito bem. 2022 foi um ano de crescimento saudável e em linha com as nossas expectativas.” Para o próximo ano, com as eleições finalizadas e a boa situação internacional, Roesler projeta um cenário favorável: “Estamos otimistas em relação a 2023, tanto no Brasil como em Nova York”.

No balanço de sua edição deste ano, novamente presencial e na Bienal, a SP-Arte afirmou que galeristas como Paulo Darzé e Antônio Almeida (Almeida & Dale) declararam que esta foi a melhor edição da feira desde que começaram a participar. Para Nei Vargas da Rosa, doutor em Artes Visuais e diretor da Aura Galeria, 2022 foi marcado por um excesso de feiras diante do contingente reduzido de colecionadores no Brasil.

“Não é possível termos tantas feiras concentradas em um único ano. Foram quatro em São Paulo, uma em Goiânia, uma em Brasília e outra no Rio. A Fargo e a FBAC são regionais e têm grande importância por atraírem um público que não acessa as principais iniciativas do país. Mas quatro feiras em São Paulo é desproporcional”, declarou em entrevista para o colecionador e gestor cultural Fabio Szwarcwald em sua coluna na Veja Rio.

Na mesma coluna, Szwarcwald analisa: “Sigo sendo um entusiasta das feiras (…). Naturalmente, há um mecanismo de seleção que vai esvaziar as propostas inconsistentes e consolidar o que de fato soma ao sistema.” Ou seja, iniciativas como a SP-Arte e a ArtRio, precursoras em suas cidades, já são estabelecidas, mas outras podem não emplacar em mercados saturados.

O que o Brasil e o mundo tiveram em comum em 2022, e que se projeta para o próximo ano, é a tendência à maior visibilidade de jovens artistas e de pautas identitárias e relativas a grupos minorizados. “Enxergamos também um movimento relacionado às questões indígenas, aos povos originários. Algo que vem muito forte com a volta da atenção à Amazônia, com o novo governo Lula. O mundo tem muito interesse em conhecer mais sobre as histórias contadas pelos povos originários do Brasil. Mas como são tendências, esses movimentos ainda não se refletem como os valores mais altos do mercado. São apontamentos para os novos caminhos, mas ainda não estão consolidados”, afirma Daniel Roesler. O ano novo está chegando, é esperar para ver.

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