Na entrada da galeria, um neon em alfabeto cirílico que diz: eu vejo a Terra. Esta frase foi falada por Yuri Gagarin em 12 de abril de 1961, quando o cosmonauta soviético tornou-se o primeiro ser humano a viajar pelo espaço e ver o planeta de fora. Neste instante ficou claro que a Terra é uma esfera única na qual estamos todos juntos e, por isso, é importante viver em harmonia. É com essa percepção que o artista colombiano Santiago Reyes Villaveces convida o espectador para percorrer Simpatia Cósmica, sua individual na galeria Casanova.
Baseado na cosmologia estóica, que defende o mundo virtuoso e harmônico necessariamente ligado à vontade da natureza, Santiago definiu o conceito de “simpatia cósmica” relacionando tudo aquilo que vivemos em conjunto, com outra pessoa, com a natureza, e até mesmo com o universo. Nesse sentido, estão conectados cosmos, gravidade, energia e todo tipo de negociação (política ou biológica).
A vista da Terra desde a Lua como um acontecimento mais que científico, mas essencialmente político, como ponto de partida é, portanto, certeiro. Na segunda sala é possível ver outro trabalho revelador: um meticuloso desenho em grafite de um pedaço de pedra lunar.
Em 1973, Richard Nixon distribuiu para diversos países fragmentos da lua trazidos pela missão Apollo 17. O Brasil, então presidido por Emílio Médici, recebeu duas frações: uma foi destruída no incêndio do Museu Nacional e o outro está na Urcamp (Universidade da Região da Campanha), no Rio Grande do Sul. Antes da tragédia, entretanto, o artista conseguiu fazer o desenho presente na exposição a partir do fragmento do Museu Nacional – a obra passa a ser, portanto, não só testemunha do gesto político, mas também memória da gravidade lunar. “Com um olhar atento, a obra incita uma provocação e questionamento sobre todo o contexto das diplomacias internacionais e legados coloniais no contexto da exploração espacial”, pondera o texto curatorial.
Na sala ao lado, uma escultura, também em grafiti, de um tímpano nos lembra da importância da compreensão das nossas próprias nossas próprias forças internas e das que nos movimenta, já que trata-se do nosso órgão sensorial de gravidade. Vale notar, ainda, os desenhos lunares, um positivo e outro negativo, que mimetizam uma fotografia feita no Brasil em 1919 : a imagem que registrava o eclipse lunar que comprovou a teoria da relatividade.
Outro destaque é a instalação composta por ovos também feitos de grafite. O ovo é a essência da vida, a forma mais simples criada por forças de atração ou gravitatórias. Dispostos no piso da galeria, eles também podem ser relacionados a um céu estrelado ou ocupado por vários cometas ou planetas. “Os ovos nos lembram da simplicidade do nosso corpo, são objetos que conectam tudo e contêm tudo. E, de alguma maneira, esses ovos contêm todos os desenhos da exposição, pois o princípio do desenho é a linha que por sua vez formou-se pela sucessão de pontos. Desta forma, os ovos são pequenos pontos feitos de grafite.” conclui o artista.