A exposição Les Vivants, apresentada pela Fundação Cartier e inaugurada neste mês em um evento cultural em Lille, na França, é a continuação de uma série de exposições apresentadas pela Fundação que fazem parte de um projeto que já conta mais de duas décadas e que tem por objetivo dar voz a narrativas de povos cuja cultura foi esmagada pelo eurocentrismo e de colocar em destaque esta rica produção artística por eles produzida que muitas vezes foi ignorada ou subestimada.
O foco da exposição, além da promoção de artistas de culturas alheias à ocidental-europeia, é de colocar em pauta a relação de distanciamento que o ser humano vem cultivando com a natureza e com o planeta, além de questionar os limites do antropocentrismo.
Em tradução livre, o nome da exposição remete ao “Mundo Vivo”, ou seja, a tudo que é vivo no planeta sem ser, necessariamente, o ser humano. A exposição convida o visitante a enxergar o planeta como um só corpo, uma só vida, que precisa estar em harmonia para estar saudável, como se todas as partes vivas do planeta precisassem umas das outras para estarem e continuarem vivas.
Bruno Novelli é um artista que pinta o que o Brasil tem de melhor e mais bonito: a sua inigualável riqueza natural. Com cores vibrantes, suas telas são preenchidas pela paisagem tropical, por animais, rios, lagos e a selva. Solange Pessoa, por sua vez, leva a Paris a sua linguagem própria e única fruto da sua releitura imaginativa do mundo e de suas origens orgânicas e rupestres. As suas peças parecem retratar aquilo que existe de mais original e primitivo no mundo – desprezando evidentemente a acepção pejorativa do termo.
A mostra reúne mais de 250 trabalhos de uma extensa comunidade de artistas e cientistas engajados em questões estéticas e existenciais profundamente marcadas pela enigmática beleza do mundo vivo. Entre os artistas estão o músico e bioacústico Bernie Krause, o artista chinês Cai Guo Qiang, o francês Fabrice Hyber, o cineasta amerênio Artavazad Pelechian, o botânico francês Francis Hallé e o artista americano Tony Oursler. O trabalho do último está entre as peças mais enigmáticas que constituem a Fundação Cartier e é fruto de muitos anos de trabalho conjunto.
Ainda, no centro da exposição há uma notável coleção de trabalhos produzidos por indígenas das Américas expostos juntos pela primeira vez na Europa. Suas experiências sobre uma relação igualitária entre os seres vivos humanos e não-humanos provém de uma tradição imemorial com a qual temos muito o que aprender. Muitos dos artistas vem da Amazônia brasileira como Jaider Esbell (Makuxi), Ehuana Yaira e Joseca (Yanomami), Bane Isaka e Mana ( Huni Kuin), como também da amazônia venezuelana como Sheroanawe Hakihiiwe (Yanomami). A exposição também reúne uma seleção de desenhos de artistas Nivaklé e Guarani que vivem na Floresta Chaco, como Esteban e Angélica Klassen, Floriberta Fermín, Marcos Ortiz, Clemente Juliuz, Osvaldo Pitoe e Jorge Carema.
Joseca e Ehuana Yaira, artistas que apareceram recentemente por aqui, já participaram em outras ocasiões desta série de exposições e estarão, mais uma vez, representando seu povo e suas origens na Europa.
Serviço:
Les Vivants
Local: Fundação Cartier para Arte Contemporânea
Endereço: 261 Bd Raspail, 75014 Paris, França
Data: De 14 de maio a 2 de outubro de 2022
Funcionamento:Terça a domingo, Das 11h às 20h
Ingresso: Grátis