A Galeria Kogan Amaro realiza até o dia 30 de abril, em sua plataforma virtual, a exposição Rebento, uma individual de Mirela Cabral. É a mostra de estreia da artista na galeria e também sua primeira individual, reunindo 20 obras sob papel ou tela, selecionadas por meio da curadoria do crítico e professor Agnaldo Farias. Em sua maioria, esses trabalhos foram produzidos durante período em que Mirela morou no interior de São Paulo junto de sua família, oito meses ao longo do isolamento social por conta da pandemia.
Formada em Comunicação Social, com habilitação em Cinema pela Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Mirela realizou cursos na área das artes plásticas em locais como a Parsons Paris e a Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), além de ter tido aulas com Agnaldo Farias, Leda Catunda, Rubens Espírito Santo e Charles Watson. O interesse por investigar, pesquisar e desenvolver suas habilidades foi algo sempre presente ao longo de sua trajetória.
Ao ARTEQUEACONTECE, a artista explica que o título dado à exposição está ligado ao sentido literal da palavra “rebento”: algo que está nascendo, germinando, algo por-vir; mas que também pode ser visto por um sentido metafórico, levando em consideração que uma artista que tinha uma produção figurativa passou a produzir coisas mais abstratas de um ano pra cá. Ela pontua que esse passo que seu trabalho deu não foi de maneira deliberada: “Então é como se as formas e cores explodissem no espaço e se reorganizassem de outro jeito”.
Sempre com um olhar muito carinhoso e cuidadoso com os objetos que acaba trazendo para suas obras, Mirela não é uma artista que apenas retrata o que vê, as coisas como elas estão propriamente em sua frente. Ela faz um bom exercício ficcional, no qual imagina transformações que podem ocorrer com aquele objeto. Por exemplo, ao observar uma planta, ela imagina como ela pode se desenvolver de formas variadas e o que é confeccionado a partir dali considera essas possibilidades. É, para ela, um exercício dos olhos.
Para o curador Agnaldo Farias, esse exercício ao qual a artista se entrega é um exercício de “escuta do mundo”. E isso acontece tanto com o objeto da pintura, do desenho ou do bordado quanto com o material que ela utiliza. “Isso, que se chama habilidade, não é outra coisa que não o resultado de um convívio”, ele escreve no texto curatorial que acompanha a mostra. Ele também ressalta que o assunto predominante das obras da artista “passou a não ser mais as coisas e tampouco os sentimentos, mas a organização da matéria pictórica e gráfica sobre papel ou tela”.
Por falar em material, a artista conta também que até esse período de quarentena nunca havia trabalhado antes com o bordado, com linhas e agulhas. Em sua formação, primeiro veio o desenho e depois passou a realizar algumas pinturas. De acordo com ela, porém, essas pinturas eram algo muito mais relacionados a estudos, não algo que considerasse um trabalho. “Era mais de ordem acadêmica ou uma pesquisa até para o próprio desenho”, conta.
O bordado chegou recentemente. Os materiais ficaram bem escassos no decorrer do isolamento na região interiorana. Ela não conseguia encontrar tudo o que precisava para continuar a desenvolver aquilo que havia começado. Em certo momento, percebeu uma vontade grande de testar outro suporte que não fosse a pintura ou o desenho. Foi aí que, em uma loja de armarinhos, comprou linho e linhas de meada. De forma autodidata, começou a aprender a bordar, passando a bordar na tela em tecido…
“Foi muito no intuito de tentar pesquisar no bordado aquilo que eu fazia no desenho. Quando você compra linha, você tem infinitas possibilidades de cores, infinitas possibilidades de texturas…”, ela comenta. No bordado, a artista encontrou um caminho de volta para o desenho, algo que ela aponta como um paralelismo. “Consequentemente, comecei a fazer umas pinturas também, tentando pesquisar como pintura, desenho e bordado podem interagir…. Como uma informação que pego de um eu levo para o outro”, continua.
Esse trânsito natural e espontâneo – que também converge – que Mirela Cabral faz entre entre figurativo e o abstrato, entre materiais, linguagens e suportes é apontado de forma bastante comovente pelo curador no texto da exposição fazer referência à obra mais antiga que integra a seleção, Sopro (2019): “No seu caso, tanto o binarismo do gênero, quanto o da formulação “arte abstrata x arte figurativa”, que tanta importância teve, ao longo do século XX, não diz muita coisa mais, perdeu sua validade. Mirela compartilha o princípio, segundo o qual a arte não trata de coisas reais, mas de ideias referentes às coisas reais. Arte é uma aventura da linguagem. Como tal, diz respeito ao ser humano”.
Para visitar a exposição virtual, basta acessar o site da Galeria Kogan Amaro. No dia 7 de abril, foi realizada uma Live Talk na plataforma Zoom, com a participação da artista, do curador e de Fred Carvalho, artista e professor da UFRJ. A conversa foi gravada e está disponível no Youtube da galeria. Basta clicar aqui para conferir.
Mirela Cabral: Rebento
Curadoria de Agnaldo Farias
Data: Até 30 de abril
Local: no site da Galeria Kogan Amaro