Uma das maiores exposições organizadas no Brasil sobre as história do tráfico transatlântico de escravos, trazendo à tona narrativas e artistas negligenciados por ascendência africana, Histórias Afro-atlânticas certamente foi um marco para a História da Arte no Brasil abrindo o caminho para inúmeras expressões e lutas que se seguiram. O reconhecimento internacional de sua relevância foi anunciada pelo Museum of Fine Arts, de Houston: o museu americano receberá a mostra em 2021. Aproveitando o movimento, a National Gallery of Art de Washington DC (NGA) também abraçou a causa e vai abrigar a exposição na primavera de 2022!
“Histórias Afro-atlânticas oferece uma janela para as muitas narrativas, formações culturais e experiências produzidas pelo comércio transatlântico de escravos e suas consequências. A mostra explora as conexões diaspóricas, lida com o legado violento da escravidão, mostra a presença e as experiências difundidas por negros em todos os estratos sociais e muda nossa compreensão da história do Atlântico negro”, anunciou o NGA em uma carta para a imprensa.
A mostra tomou o próprio Brasil como ponto central do comércio transatlântico de escravos, não apenas por ter sido organizada aqui mas pelo fato do Brasil ter sido o destino de cerca de 46% de todos os escravos africanos trazidos para as Américas entre os séculos XVI e XIX, totalizando quase quatro milhões.
Histórias Afro-atlânticas incluiu mais de 450 obras – desde trabalhos de nomes clássicos como Arthur Timótheo da Costa até de jovens em ascensão como No Martins. Para a turnê americana, serão levados cerca de 150 trabalhos, entre pinturas, esculturas e fotografias que datam do século XVI até o presente criados por artistas de países como Brasil, Cuba e República Dominicana. A história da diáspora da África Ocidental foi contada muitas vezes, mas nunca com essa amplitude ou equilíbrio geográfico.”, Holland Cotter para o The New York Times na época da mostra.
Como Adriano Pedrosa apontou em um dos textos do catálogo, “coleções de retratos de museus na Europa e nos Estados Unidos geralmente exibem imagens de membros da realeza, chefes de governo…representações de homens e mulheres negros são raras, e retratos individuais ainda mais raros“. Essa viagem de Histórias Afro-atlânticas pode ser, por tanto, um primeiro passo para mudar algumas narrativas da história.