Os vários destinos nas obras de Marcos Amaro

Quem não é propriamente do mundo da arte e conheceu a figura de Marcos Amaro nos últimos dois anos muito provavelmente se deparou com o colecionador de arte, o empresário…

por Jamyle Rkain
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Quem não é propriamente do mundo da arte e conheceu a figura de Marcos Amaro nos últimos dois anos muito provavelmente se deparou com o colecionador de arte, o empresário que adquiriu a antiga galeria Emmathomas (hoje Galeria Kogan Amaro) e/ou apaixonado por arte que decidiu abrir um museu na cidade de Itu, no interior de São Paulo: a Fábrica de Arte Marcos Amaro (FAMA).

O que muitas dessas pessoas não sabem é que, na verdade, a relação de Marcos com a arte não parte apenas da admiração, mas também do fazer. O caminho do artista veio antes de todas esses outros caminhos que ele traçou no circuito. Desde criança, acompanhando seu pai em compromissos de trabalho, começou a desenhar aviões. A família fundou uma das mais importantes companhias aéreas do país, a TAM (atualmente LATAM). Desta forma, o pequeno Marcos estava sempre rodeado das máquinas da aviação.

“Divã Espacial”, 2015.

Mais tarde, já adulto, Marcos passou a estudar filosofia e também desenvolver mais suas habilidades artísticas no Ateliê do Centro, um espaço experimental criado pelo artista Rubens Espírito Santo. Nesse momento, começou a produzir corpos escultóricos com destroços, peças e sucatas de aviões. “A minha produção é mais conhecida pela questão aeronáutica, que é essa primeira fase da minha produção, que está muito relacionada com a minha história. Meu trabalho é muito autobiográfico”, conta Marcos.

Ele explica que nessa parte de seu trabalho sempre há uma negociação entre o material mais árido com algum elemento que possa denotar maior aconchego, já que o alumínio do avião muitas vezes não é um tipo de material que oferece conforto.

Em seguida, o artista passou a explorar também algumas formas navegatórias. Ele conta que acha que isso ocorreu também para que pudesse “lidar melhor com a questão do avião”, que tanto permeava sua pesquisa e execução de obras. A partir daí, passou a se soltar um pouco mais e experimentar outros suportes e materiais, como pinturas em tela nas quais utilizou gesso, criando variadas formas de relevo multicoloridas.

“Moulin Rouge on Blanc”, na Bienal de Curitiba de 2019.

Durante o período de quarentena por causa da pandemia de Covid-19, tendo que se afastar de todas as outras atividades que absorvem boa parte de seu tempo no dia a dia, Marcos passou a ter momentos nos quais pode produzir mais. Nisso, vem retomando a ideia das telas e fazendo uma série de novos trabalhos com técnicas muito experimentais e múltiplas.

“Agora eu acho que retomo um pouco daquilo [pintura e gesso], mas de uma forma diferente. Eu entendo que as pinturas têm um aspecto bastante psíquico, no sentido de eu ter esses diálogos sobre aquilo que é desconhecido para mim — e se torna conhecido para mim no processo — e o gesso, que é mais palpável, então ele acaba tendo uma relação mais imediata com as coisas”, explica.

Nesse mergulho que o artista tem dado novamente em seu trabalho, algo um pouco incomum agora devido às suas outras atividades, ele tem aproveitado a frequência para se aproximar de diferentes suportes. “Tenho explorado materiais que me interessam e que eu já vinha pesquisando, mas que agora pude desenvolver com mais morosidade”. Ele também realizou nesse período muitos desenhos em carvão, pinturas em grande escala e esculturas.

Entre retratos de Nero e Calígula, uma pintura que remete à Aracy Amaral, desenhos de animais e experimentos em papel para esculturas, Marcos vai desdobrando caminhos a serem trilhados (de avião, de barco ou mesmo a pé, de pincel e tela na mão) nas próximas exposições, uma já em mente para o período pós-pandemia, “talvez na própria FAMA”, ele conta.

Sobre seu trabalho autobiográfico, que é realizado sem receios de expor sua pessoalidade, ele crê que a arte é uma forma de conviver com os medos. “Eu acho que a arte me trouxe essa possibilidade de poder lidar melhor com os medos. Meu trabalho tem a ver com uma dor, dor de perda, perdas que a gente vai tendo ao longo da vida e vamos, de alguma forma, organizando e levando conosco”.

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