Livros AQA: Tempo circular, Leda Catunda

“Nunca as formas de Leda Catunda tiveram tanta elaboração e presença e, ao mesmo tempo, nunca as imagens do mundo apresentadas foram tão marcantes, tão banais e ansiosas por atenção”,…

por Beta Germano
3 minuto(s)
Livro Tempo Circular, de Leda Catunda

“Nunca as formas de Leda Catunda tiveram tanta elaboração e presença e, ao mesmo tempo, nunca as imagens do mundo apresentadas foram tão marcantes, tão banais e ansiosas por atenção”, explica Paulo Miyada no texto de abertura do livro Tempo Circular, lançado pela editora Cobogó com foco nas obras produzidas pela artista com formas orgânicas: círculos, gotas, amebas, línguas e asas são construídas, pintadas e sobrepostas reforçando a qualidade objetual de sua pintura, com peso, densidade e qualidade própria. 

Conhecida por ser uma das defensoras do retorno à pintura – Leda participou da exposição Pintura como meio, 1983, em São Paulo; e, da lendária Como Vai Você, Geração 80?, em 1984, no Rio de Janeiro -, Leda Catunda pinta, desenha e faz belíssimas aquarelas…mas vai além da tela ou papel liso e branco, neutro e sem significado antes do gesto do artista.  

Ela coleciona ( e usa em suas composições) objetos do mundo com várias texturas, formatos, caimentos que contrastam com o ideal de regularidade virgem da tela esticada: tapetes, toalhas, cobertores estampados, lonas, plásticos, pedaços de couros sintéticos. São suportes e matérias-primas que, além de uma materialidade diferente,  já trazem uma série de simbologias e significados.

Há muitos anos, a artista pesquisa e questiona a relação do mundo contemporâneo com as imagens. Pontua o fluxo imagético desmedido que ganhou força com a internet e mídias sociais e nos levou a uma “convivência plácida e pouco questionadora, onde o excesso visual é tolerado ou mesmo aclamado”, como ressalta Miyada. 

Reunindo e “costurando” (literalmente!) estas imagens, Leda nos propõe pensar na imagem como construção de identidade projetada e publicada. Por um lado, ela mostra figuras e símbolos reconhecíveis em tribos específicos – repare na obra Lobo certamente dirigida aos que se identificam com o lifestyle heavy metal.   Por outro, ressalta um “eterno bailes de máscaras”, como nota Miyada,  construído por selfies com looks e, portanto, identidades descartáveis – caso da obra Mar Linda.  

Nossa demasia convivência com essas imagens leva a artista a indagar outro fenômeno: o consumo. Assim, em obras como Coisas para comprar , ela faz um exercício de abstração geométrica com logomarcas propondo uma reflexão sobre como consumimos por meio destas imagens. O gosto é apresentado, aqui, como uma espécie de medium atravessado por multidões de consumidores anestesiados. 

A publicação destaca o interesse da artista pelos universos popular e kitsch e a construção de uma poética visual onde o uso de imagens de acervo pessoal ou da internet se unem ao trabalho de formas arredondadas e orgânicas. E é daí que nasce o nome do livro: Tempo circular conta com uma entrevista entre Fernanda Brenner e a artista onde as duas buscam explicar os efeitos cíclicos do tempo em na obra de Leda. 

Os trabalhos de Leda Catunda apontam para alguns questionamentos: Como pode ser memoráveis esses arranjos de materiais tão descartáveis? Haverá autenticidade no cerne de signos pré-fabricados? Por que fazer novas imagens? Por que ainda insistir em olhar atentamente para o que nos acerca? Como viver em imagens e não ser uma delas? Como bem define Miyada, o novo livro da artista traz um “reflexo sereno de um mundo histérico”. 

EM TEMPO: Quem em usar  o código “CIRCULAR40” na compra do livro no site da Editora Cobogó, terá 40% de desconto até 23:59 de sábado, dia 11 de abril. 

Você também pode gostar

© 2024 Artequeacontece Vendas, Divulgação e Eventos Artísticos Ltda.
CNPJ 29.793.747/0001-26 | I.E. 119.097.190.118 | C.C.M. 5.907.185-0

Desenvolvido por heyo.com.br