Para já entrarmos no clima da Copa do Mundo que se aproxima, separamos dezenove obras que retratam o futebol, seja como temática principal, ou para destacar grandes figuras históricas, ou ainda como ponto de partida para outros diálogos sobre política e racismo.
Dentre consagrados a jovens artistas, brasileiros ou internacionais, contemporâneos ou mais antigos, tentamos selecionar uma lista diversa. Porém, apesar do assunto ser também do interesse feminino, infelizmente encontramos poucas autoras mulheres que produziram obras dentro dessa temática – o que é uma pena porque o tema está intimamente ligado às lutas feministas, visto que o esporte foi proibido por Lei de ser praticado pelas mulheres na era Vargas aqui no Brasil. Ainda assim, torcemos para que aos poucos e talvez incentivados pelo evento futebolístico de novembro, essa lista se expanda e se pluralize mais.
Confira abaixo nossa lista de obras intrigantes sobre o tema:
O jogo!, 2022, de Augusto Leal
A obra consiste em uma instalação de 24 traves de gol de diferentes tons de pele, e dispostas de maneira que as maiores são mais claras e estão mais próximas do centro onde se encontram os jogadores, enquanto as menores e de tons mais retintos, ficam mais distantes. Assim, com a obra interativa o artista baiano refere-se ao futebol como símbolo de um país moldado no mito da meritocracia como justificativa de violência de corpos negros.
Futebol, 1935, de Candido Portinari
O artista consagrado nasceu numa cidade interiorana de São Paulo chamada Brodósqui. Ainda que ele tenha se mudado para o Rio de Janeiro na adolescência, é muito comum vê-lo retratar diversas imagens de suas memórias na cidade pequena. Um exemplo disso, é a obra Futebol, que emana simplicidade por meio das crianças retratadas.
O vestiário, 1953, de Robert Tavener
Para comemorar seu 90º aniversário em 1953, a Associação de Futebol da Grã Bretanha lançou a competição de Futebol e Belas Artes, incentivando os artistas a enviarem trabalhos que retratassem “qualquer aspecto do futebol da Associação, não apenas o jogo em si, mas todas as suas atividades relacionadas”. A pintura de Tavener, que mostra o esporte numa cena completamente informal de bastidores, foi uma das cinco vencedoras na categoria de gravura e litografia, pela qual o artista recebeu £50.
Seleção, 2018, de Mulambo
Mulambo, que antes de ser artista tentou ser jogador de futebol e até treinou em alguns times na sua adolescência, entende o esporte como um fato social. A pintura em questão nasceu após a morte de um dos seus antigos companheiros de time que tinha caído no tráfico.
Jogo de futebol, 1997, de Rubens Gerchman
O artista carioca foi um grande amante do futebol, tendo o retratado diversas vezes. Porém, Gerchman pôs sobre o esporte um olhar crítico sobre como ele é capaz de massificar e mobilizar multidões, enquanto eleva o homem comum à condição de herói. Segundo Mário Pedrosa, o artista utiliza de figuras, ainda que não identificáveis de imediato, mas que são “modelos-fetiches da sociedade do consumo”.
Jogo de futebol no Chelsea, 1953, de Mary Krishna
Artista impressionista britânica, costumava combinar influências da arte ocidental com as práticas e técnicas tradicionais da Índia. Nesta pintura, ela posiciona o espectador entre a torcida da partida, enfatizando o movimento dos jogadores vistos em uma tarde escura de sábado de inverno.
Pelé, 1975, de Andy Warhol
O artista pop conhecido por retratar as grandes celebridades do mundo, fez um retrato em serigrafia do brasileiro Pelé. Essa pintura faz parte da série Atletas de 1975, e impressionou o jogador em questão, que na época disse: “Ele deu continuidade à minha vida e à minha mensagem fora do campo de futebol”.
Konkurrenz III, 2000, de Maria Lassnig
A artista austríaca é conhecida por criar pinturas que exploram a fisicalidade do corpo e sua distorção, para tratar da consciência corporal. Na obra que pode ser traduzida como “Competição III”, Lassnig retrata três jogadores de futebol ativamente empenhados em sua atividade atlética. Na época de criação da pintura, a artista tinha 81 anos e todos os três atletas foram baseados em sua própria imagem, adicionando um tratamento bastante expressivo tanto nas formas, quanto nas cores vibrantes e pinceladas fluidas – característico de Lassnig.
Maracanã, 2003, de Nelson Leirner
Na obra em questão, o paulista recriou o estádio com um time de Incríveis Hulks enfrentando uma equipe de Power Rangers. Nas arquibancadas há Budas, Jesus e legiões de cavalaria romana, entre ícones da cultura pop. Segundo Leiner, trata-se de uma reflexão sobre os poderes concorrentes do mundo: religião e cultura de consumo, nenhuma das quais tinha os interesses do povo em seu coração.
Morte súbita, 2014, de Jaime Lauriano
A videoarte de Lauriano expõe a violência da ditadura militar brasileira em contraste com as camisetas da vitória do país no Mundial de 1970, que ocorreu sob esse contexto. Uma voz ao fundo do vídeo recita os nomes dos dissidentes desaparecidos ou assassinados durante o mesmo ano.
Vestiário Watford, 1953, de Hubert Andrew Freeth
Esta peça retrata jogadores do Watford Futebol Clube no vestiário. A primeira figura à direita, é Tony Collins, um jogador inglês que fez história como o primeiro técnico negro na Liga de Futebol, levando Rochdale à sua única grande aparição final na Copa da Liga de 1962.
Sábado de Contribuintes, 1953, de Gerald A. Cains
A pintura nasceu em um sonho do artista que rapidamente fez um esboço quando acordou. O título provocativo refere-se a uma cobrança de imposto conhecida como “imposto sobre diversões” a que os ingressos para jogos de futebol estavam sujeitos na época. Essa taxa foi introduzida pela primeira vez durante a Primeira Guerra Mundial e, apesar dos protestos na época da pintura, os pedidos de revogação foram rejeitados.
Sem título, 2006, de Priscilla Monge
A artista costarriquenha propõe uma obra super interativa, que consiste em um campo de futebol de 150m² ondulado, cujos relevos impossibilitam ou dificultam os jogadores de correrem e passarem a bola. O trabalho instalado em lugares públicos e na Bienal de Liverpool, em 2006, força os participantes a mudar de tática ou a criar novas regras para o tradicional jogo.
Amen: Grassroots Soccer, 2010, de Jessica Hilltout
Em 2002, a fotógrafa anglo-belga deixou a publicidade, comprou um jipe e iniciou uma série de viagens aos países não ocidentais que a atraem. Dessa empreitada surge seu livro “Amen: Grassroots Soccer”, que apresenta registros de 10 países do sul e oeste da África, onde jovens fazem bolas de futebol com os mais variados materiais que estejam à sua disposição.
Zidane, um retrato do século 21, 2006, de Douglas Gordon e Philippe Parreno
A videoarte de Douglas Gordone em colaboração com Philippe Parenno, segue o craque francês Zinédine Zidane em tempo real ao longo de uma única partida, que aconteceu em 2005. Montado a partir de imagens filmadas por dezessete câmeras sincronizadas colocadas ao redor do estádio, o filme permanece firmemente no jogador mesmo quando a ação central da partida se move para outro lugar.
Série Diáspora, 2014, de Omar Victor Diop
Na série, o fotógrafo senegalês Victor Diop reinterpreta narrativas menos conhecidas do papel dos africanos fora da África, sob as lentes dos fãs de futebol, incluindo detalhes como cartão vermelho, bola, luvas e apito. “Para mim, futebol é um interessante fenômeno global que revela onde a sociedade está quando tratamos de questões de raça”, explica o artista.
Três futebolistas, 1922, de Ángel Zárraga
Em 1928, as Olimpíadas de Amsterdã incluíram uma Olimpíada de arte, onde um júri premiou algumas obras com uma exposição no Museu Stedelijk, além de uma medalha olímpica – equivalente à dos atletas. O México enviou Angel Zarraga com, entre outras coisas, sua pintura As futebolistas, que retrata Jeanette Ivanoff, Henriette Comte e Théresè Renault – vencedora da primeira copa francesa de futebol feminino em 1922. Zárraga foi assim o primeiro artista mundial a retratar o futebol feminino em tela, o que causou um frenesi no mundo esportivo altamente conservador.
O splash, 2004, de Peter Hodgkinson
A escultura é uma homenagem ao Tom Finney, um futebolista inglês considerado um dos maiores da história na sua posição. A obra foi inspirada na fotografia de 1956, que mostra Finney deslizando por uma entrada no campo encharcado do Chelsea.
Crying for Freedom, 2018, Forough Alaei
Durante quase 40 anos, as mulheres foram proibidas pelo estado iraniano de assistir às partidas de futebol. Na série fotográfica “Crying for Freedom”, Forough Alaei registra a Copa do Mundo de 2018 pelo ponto de vista das mulheres iranianas. Na ocasião, o governo permitiu que as famílias fossem ao estádio Azadi, em Teerã, para assistir ao jogo do Irã e liberaram a transmissão dos jogos nas TVs de cafés em Teerã, para que as mulheres pudessem assistir em locais públicos com os homens.
Arriscando serem presas, algumas mulheres, incluindo a própria fotógrafa, se disfarçaram, fingindo serem homens, para entrar nos estádios e acompanhar o campeonato.