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Frieze New York 2021: 15 obras em destaque para conferir na feira

Com quase 40% do estado de NY vacinado, feira acontece de forma presencial mas não dá trégua para medidas de segurança contra a pandemia

por Jamyle Rkain

A Frieze New York 2021 é a primeira grande feira de arte de importância internacional que acontece de forma física desde o início da pandemia. De 5 a 9 de maio, ela acontece no The Shed, um grande centro cultural localizado em Manhattan. Cerca de 40% da população do estado de Nova York já está completamente imunizada com a vacina contra a Covid-19 e os casos diminuíram 41% na última semana. Com maior confiança na luta contra o vírus, a cidade de Nova York vai voltando aos poucos “ao normal” e esse é um dos fatores para que os ingressos para visitar a feira tenham esgotado rapidamente.

A organização da feira, porém, não afrouxou as medidas de segurança! Todo cuidado é pouco, pois mutações do vírus podem ocorrer. Na semana passada, inclusive, foi identificada a primeira infecção na cidade pela variante brasileira… Por isso, foi preciso cumprir diversos requisitos para poder atuar como expositor no espaço e é preciso também seguir os protocolos para visitar os estandes. Inclusive, a escolha por realizar a Frieze no The Shed se deve ao fato de que há nele um sofisticado moderno sistema de ventilação, que inclui filtragem Merv-16 e uma tecnologia que faz com que o ar ambiente será trocado pelo menos uma vez a cada hora. Para entrar na feira, é preciso apresentar o ingresso junto a um certificado de vacinação completa ou uma prova de um teste PCR negativo (contando 72 horas antes) e de teste rápido de antígeno (24 horas antes).

São mais de 60 galerias de grande relevância participando da feira presencial, sendo a maioria delas das redondezas de Nova York. Duas delas são brasileiras, mas que possuem suas sedes também na maior metrópole dos EUA, a Mendes Wood DM e a Galeria Nara Roesler. Mas quem não teve seu estande presencial ou quem não conseguiu ingresso não vai ficar de mãos abanando, pois a plataforma de visualização virtual “Frieze Viewing Room” está disponível e a todo vapor! É a terceira edição desta versão online da feira, na qual estão participando 100 galerias de seis continentes, incluindo as brasileiras Kogan Amaro, Fortes D’Aloia & Gabriel, Almeida e Dale + Marília Razuk e Luisa Strina. Além de uma maior quantidade de galerias participando, a feira em formato digital também terá mais tempo, ficando no ar até o dia 14 de maio. A plataforma online também recebe as galerias que estão participando da feira presencial.

Abaixo, confira uma seleção de obras que estão nos estandes presenciais das galerias na feira montada no The Shed e também obras que podem ser acessadas no viewing room!

Lisa Corinne Davis, CONCLUSIVE CONCOCTION, 2021
No estande da Jenkins Johnson Gallery

CONCLUSIVE CONCOCTION 56 x 46 inches, oil on panel, 202
Lisa Corinne Davis, CONCLUSIVE CONCOCTION, 2021

Com um conjunto de artistas de produção bastante substancial, a galeria buscou levar para a feira obras de artistas que trabalham com questões sociais e políticas da diáspora por meio de um encontro entre o passado e o presente. Uma delas é Lisa Corinne Davis, que utiliza a abstração como meio para investigar a interioridade de conceitos como raça, cultura e história. Sua produção passa pela ideia de que nada é concreto, mas sim uma “construção subjetiva da cultura, preconceitos, suposições e predisposições pessoais”.

LYNDA BENGLIS, Sb#1, 2017
No estande da Mendes Wood DM.

A galeria brasileira com sede em Nova York e em Bruxelas mostra o trabalho da artista estadunidense, nascida na Louisiana, Lynda Benglis. O conjunto de obras da artista “reflete a liberdade dos materiais que assumem sua forma quase independentemente da agência do artista, as possibilidades inerentes à transformação da matéria e a necessidade humana de questionar o desconhecido. Com seus célebres “derramamentos”, Benglis cria um método de escultura que segue o processo de pintura enquanto desafia as noções aceitas de perspectiva. Benglis incitou experiências políticas, estéticas e filosóficas ao longo de suas práticas, incluindo em seus filmes experimentais que exploram gênero e sexualidade.

Krystle Lemonias, My man can eat eeh; go put dis in the gahbage, 2021
No estande online da Andrew Rafacz

A jovem artista nascida na Jamaica cria retratos de pessoas em comunidades negras de imigrantes que contribuíram muito para a diversidade cultural e a força de trabalho dos Estados Unidos, apesar das desigualdades sistêmicas que enfrentam. Seus trabalhos semelhantes a tapeçaria, combinando colagem, costura e gravura, exploram o trabalho dessas mulheres como trabalhadoras domésticas que desempenham um papel integral na função de nossa sociedade. Por meio de sua prática, Lemonias aborda as complexidades sociais no que diz respeito a classe, cidadania, desigualdade econômica, mercantilização e direitos trabalhistas. Ao incorporar ao trabalho roupas de bebê usadas pelas crianças das quais a mãe de Lemonias cuida, a artista comunica as histórias não contadas das experiências de sua mãe como babá.

Vanderlei Lopes, There is no wall for capital, 2019
No estande online da Almeida e Dale/Marilia Razuk

As brasileiras Galeria Almeida e Dale e Galeria Marilia Razuk participam juntas do viewing room online da Frieze New York 2021. Com um projeto intitulado Poéticas Para Adiar o Fim do Mundo, com produções de artistas que se destacaram na segunda metade do século XX: Anna Maria Maiolino, José Leonilson, Eleonore Koch, Johanna Calle, Maria Laet, Vanderlei Lopes e Mariana Serri. Destaque para esse trabalho icônico de Vanderlei Lopes, no qual “os pesados ​​jornais feitos em bronze, pintados a guache, têm a aparência leve e trivial de uma pilha de jornais. As diferentes linguagens, imagens e textos utilizados enfatizam, esfregam e embaralham o fluxo efêmero que constrói o cotidiano e a história”.

GENERAL IDEA, S/HE, 1976
No estande online da Esther Schipper

É imprescindível conhecer o universo do General Idea neste estande especial que a galeria alemã Esther Schipper preparou em parceria com a Mitchell-Innes & Nash. O projeto S/HE, que o coletivo canadense realizou em 1976, é um dos destaques do espaço. Brincando com o gênero, os dois grupos de cinco fotografias em preto e branco mostram dois modelos, um masculino e um feminino, ambos modelos profissionais do círculo de amigos do General Idea. Cada modelo ilustra cinco funções geralmente atribuídas como masculinas ou femininas.

Alexis Peskine, Alto Amor, 2019
No estande online da October Gallery

As obras de Alexis Peskine no viewing room da October Gallery são indiscutivelmente impressionantes. Alto Amor é apenas uma delas, mas todas merecem destaque aqui. O artista é filho de uma brasileira com um russo, nasceu em Paris e estudou nos EUA. As obras pelas quais o artista é conhecido são retratos de mídia mista em grande escala da diáspora africana, que são reproduzidos martelando pregos, com bastante precisão, em madeira manchada com materiais naturais, como urucum, café, lama e hibisco.

Gabriel Borba, Nós, 1977.
No estande da PM8 / Francisco Salas

A galeria espanhola PM8 / Francisco Salas faz uma homenagem ao artista brasileiro Gabriel Borba, com trabalhos históricos do artista em seu estande virtual. A instalação Nós foi apresentada pela primeira vez no Espaço B, a convite de Walter Zanini, como parte de um novo projeto para esta que era uma nova área dentro do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP). O Espaço B foi um espaço dedicado a propostas experimentais e projetos menos convencionais.

Dana Schutiz, The Expressionist, 2021
No estande da David Zwirner

Essa escultura de Dana Schutz pode ser quase imperceptível em meio às telas em grande escala da artista que a David Zwirner apresenta em seu estande, mas merecem bastante a sua atenção. Numa mostra individual da artista, a galeria leva esculturas e um conjunto de pinturas concebidas especialmente para a Frieze, que retratam várias figuras navegando em situações pós-calamitosas e expandem a abordagem singular e radicalmente criativa de Schutz ao tema e à pintura.

Rafaella Braga, Description, 2020
No estande virtual da Galeria Kogan Amaro

A Galeria Kogan Amaro apresenta um estande individual de Rafaella Braga, artista brasileira baseada atualmente em Berlim. Ela utiliza a tela como uma espécie de diário e desenvolve sua prática tendo o corpo como matéria-prima e promovendo investigações acerca do self delineado por suas vulnerabilidades e segredos. Além disso, seu trabalho abarca também uma pesquisa que considera a interação entre realidade e fantasia, identidade e tempo, oferecendo uma alternativa onírica à realidade.

Antony Gormley, Set V, 2019
No estande da Sean Kelly Gallery

A Sean Kelly Gallery mostra na Frieze uma seleção um tanto dinâmica que inclui pinturas, esculturas, fotografias e trabalhos em papel. Destaque para esta escultura do britânico Antony Gormley, que deste os anos 60 sustenta sua pesquisa e sua criação considerando o seu próprio corpo e o dos outros de uma forma que confronta questões fundamentais de onde o ser humano se encontra em relação à natureza e ao cosmos. Esta obra da série GRIDWORK exemplifica como ele busca explorar o poder da mudança de escala e investiga a relação do corpo humano com o espaço.

Cristina Canale, Paisagem, 2020
No estande da Galeria Nara Roesler


A casa brasileira leva a seu estande uma conversa entre obras de Cristina Canale, Carlito Carvalhosa e Amelia Toledo, considerando como suas produções estão relacionadas com “a frontalidade e o self”, noção trazida por uma afirmação de Leon Battista Alberti que aponta para o mito de Narciso. Em sua teoria, Narciso teria concebido a pintura quando tentou alcançar sua imagem refletida na água. Desta forma, são expostas obras recentes de Canale, nas quais a artista utiliza elementos figurativos que caminham para uma dissolução na abstração, sendo elas uma seleção de obras de figuras sem rosto.

Mungo Thomson, October 3 – October 12, 2020 (Ruth Bader Ginsburg 1933–2020), 2020
No estande da KARMA.

Não poderia faltar a obra mais “instagramável” desta edição, não é? É basicamente um convite para uma selfie no espelho que vai te enquadrar na capa da revista TIME. E o Instagram já está cheio delas só contando o primeiro dia da feira! A obra faz parte de uma das mais conhecidas séries do artista Mungo Thomson. É certamente um convite para a selfie, chamando o público para experimentar como seria estar retratado na capa de uma das revistas mais importantes do mundo. A obra em exibição remonta à capa que foi publicada em homenagem à juíza Ruth Bader Ginsburg (RBG) em outubro do ano passado.

Johanna Unzueta, Two Of Us II, 2019
No estande online da Proyectos Ultravioleta

Para a Frieze Online Viewing Room a galeria guatemalteca aposta em trabalhos das artistas Hellen Ascoli, Johanna Unzueta e Elisabeth Wild. Esses trabalhos dão enfoque à capacidade delas de transcender seus materiais para evocar obras profundas e honestas, que por sua vez se tornam portais de uma espécie para o espiritual. Dentre eles estão dois trabalhos de Unzueta, artista chilena, que fazem parte da série The Two Of Us. A artista utiliza feltro, tecido, madeira para realizar instalações e esculturas que questionam o trabalho e seus impactos tecnológicos, históricos e sociais na condição humana.

Diambe, Devolta, 2020.
No estande online da Fortes D’Aloia & Gabriel.

Com Inominável, a Fortes D’Aloia & Gabriel leva uma seleção de trabalhos em diversos formatos e plataformas para a Frieze. Todos eles retratam, de certa forma, o zeitgeist, considerando questões do colonialismo, violência, religião, censura, e o retrato, através da arte, dos caminhos da sociedade brasileira. Destaque para o vídeo da série Devolta, do artista Diambe, na qual ele utiliza um conceito expandido de coreografia para oferecer embasamento legal para intervenções pela cidade. O vídeo e a fotografia registram a coreografia acerca de uma roda de fogo feita ao redor da estátua de D. Pedro I, na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro. A ação desperta diversas camadas e desafia as histórias coloniais.

Alexandre da Cunha, Not a pipe, not a pipe, not a pipe… I, 2019

O “Objet Trouvé” é central na estratégia de Alexandre da Cunha de alterar objetos encontrados, como latas, garrafas, pincéis e cachimbos, e animá-los com uma energia sexual, encenando-os como agradáveis desviantes. As obras de Da Cunha foram descritas como “Prontas Tropicais”, transbordando de desejo aprisionado em formas exóticas e estéticas, muitas vezes imitando esculturas modernistas. No caso de Not a pipe, not a pipe, not a pipe… I, o artista faz referência não apenas a La Trahison des Images de Magritte, mas também à prática dadaísta de jogos de palavras semânticos.

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