Olimpíadas 2024: Quais referências às artes visuais foram feitas na cerimônia de abertura?

Marcando o início oficial das competições, a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, realizada na sexta-feira (26), atraiu os olhos do mundo inteiro para um show de cerca de quatro horas, cheio de simbolismos e easter-eggs culturais, perpassando os principais pontos da capital francesa, desde a Torre Eiffel até Musée d’Orsay e Louvre.

O evento foi dividido em quatro atos, prestando homenagem à diversidade cultural da França – resultante, vale lembrar, do passado colonial que usurpou a arte e patrimônio de diversas nações ao longo dos séculos – e ao lema de sua república: Enchanté, Ça Irá, Liberté, Égalité, Fraternité, Sororité, Sportivité, Obscurité (Encantado, está tudo bem, liberdade, igualdade, fraternidade, sororidade, espírito esportivo, vida noturna).

Em uma edição com 50% de participação de atletas mulheres – pela primeira vez em 125 anos de jogos –, nas suas referências artísticas, a cerimônia deu bastante destaque à figuras históricas femininas, sublinhando a crescente presença e importância das mulheres nos eventos esportivos.

A começar pela clássica pintura “A Liberdade guiando o povo” (1830), de Eugène Delacroix, que foi citada algumas vezes durante a cerimônia, como na encenação da Revolução Francesa, no ato “Liberdade”, e na apresentação do hino nacional francês entoado por Axelle Saint-Cirel ao final do ato “Fraternidade”.

Cerimônia de Abertura das Olimpíadas de Paris

O personagem mascarado, que conduziu toda a narrativa do evento, levou a Tocha Olímpica para dentro do Louvre, o maior museu de arte do mundo e um marco da cidade de Paris. Lá as obras do acervo foram animadas e os personagens saíram de suas molduras para assistir aos Jogos. Mas, apenas personagens mulheres destas obras emergiram no Sena junto aos barcos das delegações. Submersas até o nariz, personagens históricas como Madeleine, retratada por Marie-Guillemine Benoist em 1803, Hathor, deusa egípcia do relevo “Alívio de Seti I e Hathor” de c.1394-1279 aC., e Gabrielle d’Estrées, da pintura “Gabrielle d’Estrées e uma de suas irmãs” de 1594, são destacadas no cenário.

Cerimônia de Abertura das Olimpíadas de Paris

Em seguida, o personagem com a Tocha notou que a Mona Lisa havia sido roubada – fazendo uma referência às histórias que fizeram da obra-prima de Leonardo da Vinci o ícone que é hoje –, mas logo a (réplica da) pintura aparece flutuando pelo Sena.

No ato “Sororidade”, foram erguidas dez estátuas douradas homenageando mulheres francesas históricas: Olympe de Gouges, Alice Milliat, Gisèle Halimi, Simone de Beauvoir, Paulette Nardal, Jeanne Barret, Louise Michel, Christine de Pizan, Alice Guy e Simone Veil. A ação nos lembra do poder das imagens representativas em uma sociedade, especialmente em Paris, onde atualmente existem 260 estátuas homenageando homens e apenas 40 homenageando mulheres.

Um dos momentos mais repercutidos, que dividiu muitas opiniões, foi uma encenação feita por Drag Queens que muitos associaram à “Última Ceia” de Leonardo da Vinci – uma obra tão icônica que qualquer representação de pessoas enfileiradas lado-a-lado em uma mesa pode nos remeter a ela. Depois de muitos devotos repudiarem a ação, o diretor artístico da cerimônia, Thomas Jolly, negou a referência e qualquer intenção de ridicularizar a passagem religiosa, alegando que a inspiração foi, na verdade, as festas pagãs com os deuses do Olimpo. Nesse caso, a cena do evento esportivo se aproxima mais da obra “Festa dos Deuses”, pintada entre 1635 e 1640 por Jan Harmensz van Bijlert, do que do clássico do pintor italiano.

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